Por: Brisa Drumond
Resumo: O graffiti existe desde os primórdios da humanidade, surge antes mesmo da escrita, com a necessidade de expressão. Nessa breve história sobre o surgimento do graffiti, relatamos seu aparecimento em Paris, New York e São Paulo.
Palavras chave: Graffiti, expressão, história, Paris, New York, São Paulo.
O grafite existe desde
os primórdios da humanidade, com a necessidade de expressão e cultos da vida
cotidiana. As primeiras imagens pintadas à mão nas paredes das cavernas,
simplificadas e primitivas, narravam entre outros, o êxito da caçada e a
importância do animal abatido para a sobrevivência da tribo, sendo as primeiras
representações do que viria a ser escrita e a arte.
Derivado
da palavra italiana sgraffito, a
origem da palavra se deu no Império Romano, para denominar as inscrições feitas
nas paredes. O grafite, como se entende hoje, é considerado uma forma de expressão incluída no âmbito
das artes visuais, mais especificamente, da street art ou arte urbana.
Essa arte de rua se faz
em forma de inscrições caligrafadas ou desenhos pintados ou gravados sobre
suportes que normalmente não são previstos para esta finalidade. O
artista aproveita os espaços públicos, criando uma linguagem intencional para
interferir na cidade. Embora a língua inglesa use o
termo graffiti para ambas as expressões, no Brasil distinguem essa prática desdobrando-a entre
o grafite, e a pichação.
Normalmente distingue-se o grafite, de elaboração mais
complexa, da simples pichação, esta ultima quase
sempre considerada como marginalizada. A pichação predomina nas capitais, é o ato de
escrever ou rabiscar sobre muros, fachadas de edificações, asfalto de ruas ou monumentos.
No geral, são escritas frases de protesto ou insulto, assinaturas pessoais ou
mesmo declarações de amor. Alem disso a pichação também é utilizada como forma
de demarcação de territórios entre grupos, às vezes gangues rivais.
Por isso difere-se do grafite,
uma outra forma de inscrição ou desenho. Este ainda quando explorada em
galerias ou encomendas por particulares, como forma de ambientação ganha o nome
de muralismo.
Entretanto
ciente da hibridez dessas linguagens, sabe-se que todo o grafite tem um pouco
de muralismo e de pichação. A palavra graffiti,
será então usada como uma forma mais ampla para todas as manifestações do
gênero.
Embora tenham na sociedade compreensões e aceitações
divergentes, grafite e pichação se confundem em sua história, pois nascem com a
mesma essência de livre expressão, com uma natureza de
transgressão e deboche.
Na
Paris de 1968, surgiram as primeiras manifestações do graffiti moderno, a partir de um movimento de opressão política que
resultou em rebeliões de rua. Conforme afirma Célia Antonacci, autora de
“Grafite, Pichação & Cia”, foram registradas em muros palavras de ordem: “La liberté c’est e crime qui contient tous
lês crimes”, ou de protesto “La
Bourgeoisie n’a pás d’autre plasir que celui de lês dégrader tous”. Foi a
partir desse despertar parisiense que as pessoas perceberam a possibilidade de
registrar mensagens livres, descompromissadas, anônimas e gratuitas.
Mas
foi em New York, no final da década de 1970, com sua configuração singular na
qual se encontravam, lado a lado, as ruas sujas do Harlem e o ambiente
glamouroso da Broadway. Reunindo diferentes culturas e problemas sociais em um
mesmo lugar. Ganharam vida nas paredes dos guetos e muros da periferia, essa
expressão gráfica que contaminou o mundo.
Essa
rebelião inicial consistia em dizer: “Eu existo, eu sou o tal, eu habito esta
ou aquela rua, eu vivo aqui e agora”. (Baudrillard, 1979, p.37). Seu conteúdo
era formado de tags que se consiste
em escritos curtos e rápidos, são apenas nomes e sobrenomes, ou talvez
pseudônimos e endereços. Essas tags
ficavam cada vez maiores e unidas com desenhos, muitas vezes retirados de historias
em quadrinhos, tomam a cidade desenhadas nos trens dos metrôs. Em meados dos
anos 1980, afirma-se, não haver um único trem em New York que não tivesse sido
pintado com sprays, de cima a baixo, pelo menos uma vez, antes de serem limpos
pelas autoridades.
Segundo
a autora Célia Antonacci, esses graffitis
surpreenderam a população, afugentavam os turistas e foram combatidos pela
polícia, e conduziam alguns de seus autores à cadeia, enquanto outros eram
conduzidos às mais importantes galerias, bienais e museus de arte, não só nos Estados
Unidos como do mundo todo.
Nesta
mesma época o graffiti se espalha na
Europa nas principais cidades e recebe influência também do movimento punk.
Londres, Amsterdam, Madri são tomadas e ate o muro de Berlim , com 4,5m de
altura por 166km de extensão, símbolo do autoritarismo, foi preenchido por
centenas ou milhares de imagens ao longo, de aproximadamente, cinco anos, antes
de vir abaixo e de ter seus pedaços comercializados.
O
Brasil tem São Paulo como à capital do seu
graffiti. Por volta de 1976, lia-se nos muros da cidade a inscrição: cão fila. Anônima e insistente, essa
inscrição provocou a curiosidade de todos. Até ser desvendado seu significado:
se tratava de uma nova raça de cachorro. Pouco depois uma enorme quantidade de
poemas dialogavam com a cidade, e procuravam espaço em uma sociedade
pós-ditadura.
Segundo Décio
Pignatari:
“... a novidade estaria assim: Paris,
maio de 68, FILÓSOFOS (sic.), e, NY,
60 a 70, ARTISTAS VISUAIS (sic.), e
no Brasil, São Paulo particularmente, POETAS (sic.), e essa é a sua grande originalidade, pois a massa iniciativa aqui,
foi comandada por poetas.” (apud
Fonseca, s/d: 41)
A
idéia modernista de dessacralização da arte e do rompimento dos limites entre
cultura erudita e popular, radicada com a Pop Arte nos anos 50 e 60, atingiu
uma forma radical com o graffiti. De
baixo custo e acessível a qualquer um com coragem para enfrentar a falta de
compreensão inicial, o graffiti possibilitou
uma nova percepção da arte. Com ele a arte foi realmente para a rua e interagiu
com o espaço público e a dinâmica da vida urbana. Ela não estava mais restrita
ao privado, a galeria e museus. E assim o graffiti
e suas mais diversas representações estéticas tomam as principais cidades do
mundo.
O
estilo de cada artista de rua é desenvolvido sem nenhuma restrição, com a
utilização de ferramentas que vão muito alem das latas de spray, um ícone do
movimento. É comum o uso de stickers
(adesivos), pôsteres, estênceis, aerógrafos, pastéis oleosos, todas as
variedades de tintas e até mesmo de esculturas. Surge também o light graffiti ou grafite de luz, feita
com o uso de luzes e fotografia de exposição prolongada.
Os
desenhos e escrituras com proporções distorcidas exploram a noção do irreal,
dos sonhos e do imaginário coletivo. Os graffiti
são signos a serem lidos, presentes nos muros das metrópoles fazem parte da
vida do homem moderno.
As
primeiras manifestações artísticas do século XX caracterizam-se pela ruptura
com o passado e pelo intuito de chocar a opinião pública, pregando idéias
radicalmente novas. Os movimentos de vanguarda européia influenciaram de forma
incontestável no surgimento do Modernismo brasileiro, que por sua vez, vão
todas juntas, misturar e influenciar a arte de rua.
No
livro “Na rua: pós-grafite, moda e vestígios”, as organizadoras Cássia Macieira
e Julia Pontes, discutem, o significado e a percepção destes vestígios urbanos
na cidade de Belo Horizonte. Fazem uma
analogia da cidade com o corpo, essas inscrições aparecem na pele da atmosfera
urbana, assim como cicatrizes ao longo de uma vida.
Ainda,
segundo Rüthschilling em seu livro “Design de Superfície”, as superfícies são
elementos delimitadores das formas. Estão em toda parte e sempre foram
receptáculo para expressão humana. São entendidas como um elemento passível de
ser projetado, do qual seu comprimento e largura são medidas significantemente
superiores à espessura, apresentando resistência física suficiente para lhe
conferir existência. É na superfície das cidades que o grafite encontra seu
suporte.
“O design de superfície é uma atividade criativa e técnica que se ocupa com a criação e desenvolvimento de qualidades estéticas, funcionais e estruturais, projetadas especificamente para constituição e/ou tratamentos de superfícies, adequadas ao contexto sócio- cultural e às diferentes necessidades e processos produtivos.” (RUTHSCHILLING, 2008, p 24)
Bibliografia:
GANZ, Nicholas. O Mundo do Grafite: arte urbana dos
cinco continentes. São Paulo: Livraria Martis Fontes Editora Ltda, 2010.
ANTONACCI, Cecília. Grafite, pichação e Cia.