ARTE E MODA
A partir do seculo XIV, quando
passaram a ser diferenciadas as roupas dos nobres das roupas do clero, é que
começou a se pensar na roupa como moda. Como afirma o trecho do livro Roupa de
Artista:
Foi somente em meados do século XIV que reis e nobres, principalmente na
Corte da Borgonha, contrariados por verem suas roupas copiadas pela burguesia,
passaram a usar modelos diferenciados que, ao serem novamente imitados, eram
descartados e substituídos por outros, ainda exclusivos. Estabeleceu-se, assim,
um ciclo de criação e cópia, novidade e imitação que até hoje nos é familiar.
(COSTA, 2009, p. 13)
Porém, foi a partir do século XX que a ligação
entre as duas áreas se manifestou de maneira mais sistemática devido ao
interesse de repensar a moda e empregar o vestuário como meio de expressão
artistica e como expressão de uma ideologia e critica à sociedade. Os artistas
contestavam a dominação da alta costura parisiense, considerando-a fútil e
elitista, e defendiam roupas idealistas. Gustav Klimt foi um dos primeiros
artistas a desenhar vestidos a serem executados por estilistas:
Klimt criou com a estilista
Emilie Flöge (1874-1952), sua companheira de muitos anos que dirigia um dos
ateliês de alta-costura mais conhecidos de Viena, uma série de túnicas soltas,
que dispensavam o uso de espartilhos e eram ornamentadas com motivos brilhantes
e contrastes de texturas. Com elas, vestiu muitas modelos de suas
pinturas(...). Mas é no Retrato de Adele Bloch-Bauer I que ele alcança uma
misteriosa sensualidade com a imersão de uma mulher em uma vestimenta de sonho,
inspirada nos mosaicos de Ravena e em estampas caleidoscópicas(...). (COSTA, 2009, p. 33)
No século XIX, a criatividade
fez com que a roupa antimoda e funcional dos artistas competisse com as
extravagâncias da época por um certo tempo. Gustav Klimt atuou na moda devido a
dois motivos: ele fazia parte do movimento reformista, do qual faziam parte
intelectuais e artistas para criticar a moderna sociedade de Viena, e por
influência de Emilie Floge, sua esposa e proprietária de uma das mais elegantes
butiques vienenses. O grupo Klimt foi o único capaz de unir moda, arte, reforma
e alcançar a opinião pública.
Não se pode classificar
Klimt como estilista, pois as roupas com motivos e adornos só foram usadas por
modelos em suas telas e nunca se tornaram reais. As mulheres das obras de Klimt
usam vestidos atuais com um toque de criatividade:
Klimt concebe o atual à sua
maneira, com uma graciosa tendência àquele Nunca, saudado por Schiller como uma
única eternidade possível, e com uma pitada de impossibilidade e adorável
improbabilidade, que fazia parte do seus sonhos, realiza combinações
encantadoras de elementos inesperados, agradáveis aos olhos e antes
inimagináveis.” (BRANDSTATTER, 2000, p. 14)
Porém, a maioria dos artistas procuravam se distanciar seu trabalho que
teve como suporte a roupa, as tendências da moda e da alta costura, com
intenção de ter seu trabalho como objeto de arte e não como objeto de moda. Apenas
alguns artistas começaram a interagir com a roupa como moda, os surrealistas:
No tacante do vestuário, muitos artistas souberam
traduzir os postulados do Surrealismo por meio dele, pintando ou desenhando
trajes, joias, acessórios e estamparias, inspirados em visões oníricas e
eróticas, que testemunham a ânsia de liberdade total da imaginação que lhes era
própria. (COSTA, 2009, p. 48).
Parcerias entre
artistas e estilistas tiveram grande destaque social e cultural: o pintor
fovista Raoul Dufy que fornecia desenhos para estamparia para Paul Poiret; Elsa
Schiaparelli (1890-1973) entrosava com os artistas surrealistas como Salvador
Dalí; Yves Saint Laurent se inspirou na obra de Piet Mondrian para fazer um de
seus vestidos mais famosos em 1965. Apesar de todos inspirarem na arte, eles
estavam focados na moda, que é um fenômeno de massa e consumo.
Em 1913, em meio ao
Futurismo, Giacomo Balla escreve um manifesto dizendo que “é preciso
desconstruir o terno passadista epidérmico descorado fúnebre decadente tedioso
anti-higienico”. Ele afirmava que pensamos e agimos como nos vestimos e por
isso as roupas deveriam ter modificadores que se alteravam conforme a emoção de
cada pessoa. De acordo com MÜLLER:
Giacomo
Balla (...) passeia vestido de roupas quadriculadas e gravatas surpreendentes
de celulóide, plástico, papelão ou madeira, ornamentadas de lâmpadas elétricas
acionadas nos momentos mais eletrizantes da conversação. (MÜLLER, Florence em
Arte e Moda (2000, p )
Na escola Bauhaus,
não havia interesse em confeccionar vestimentas, mas eles se dedicavam à
criação de tecidos de arte para depois serem usados como protótipos para a
indústria. Em 1922, Oskar Schlemmer se propõe a fazer estudos de figurinos para
o Balé Triádico, em que corpo e indumentária interagiam-se em uma totalidade
com o espírito e o intelecto para os movimentos e performances. “A Bauhaus
trouxe a idéia que se aplicou a todas as áreas, de que a função sobrepõe a
forma, e passou-se a falar de funcionalidade também para a roupa e a moda.”.
Em 1964, Helio
Oiticica cria o parangolé, que são capas coloridas para serem vestidas pelo
espectador, e tinha a necessidade da musica, dança e movimento para que a obra
pudesse ser completa. Como diz Helio em suas Anotações
sobre o Parangolé:
O
espectador veste a capa que se constitui de camadas de pano de cor que se
revelam à medida que este se movimenta correndo ou dançando. A obra requer
participação corporal direta; alem de vestir o corpo, pede que este se
movimente, que dance em ultima analise.
Arte e moda estão
muito próximas nos dias de hoje, e podemos dizer que ambas são modos de
expressão cultural e refletem uma atitude. Porém com a diferença de que a moda
é efêmera, e contrasta com a arte que foi feita para ser eterna. Ricardo
Resende fala dessa distinção:
Ao
considerar a moda como expressão cultural, e portanto artística, corremos o
risco de sempre cairmos em retóricas e discussões acaloradas com os críticos e
intelectuais que colocam a arte em uma redoma inacessível à grande maioria das
pessoas. Mas nada mais presente em nosso cotidiano do que a roupa no gesto
criativo que representa o ato de nos vestirmos. (MESQUITA, 2011, p. 103)
A partir disso,
pode-se concluir que existe uma relação entre a arte e a moda, já que ambas são
meios de expressão artística e criativa. O que diferencia a moda da arte é o
fato de esta ser um produto de consumo de massa, um bem não durável, que
modifica constantemente, ao contrário da arte.
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