segunda-feira, 25 de junho de 2012

Arte e Moda

Por Laurie Venturi e Priscyla Abreu


ARTE E MODA

A partir do seculo XIV, quando passaram a ser diferenciadas as roupas dos nobres das roupas do clero, é que começou a se pensar na roupa como moda. Como afirma o trecho do livro Roupa de Artista:

Foi somente em meados do século XIV que reis e nobres, principalmente na Corte da Borgonha, contrariados por verem suas roupas copiadas pela burguesia, passaram a usar modelos diferenciados que, ao serem novamente imitados, eram descartados e substituídos por outros, ainda exclusivos. Estabeleceu-se, assim, um ciclo de criação e cópia, novidade e imitação que até hoje nos é familiar. (COSTA, 2009, p. 13)

         No século XVII já é possível se estabelecer uma relação entre a arte e a moda, exemplo disso é a corte espanhola onde o pintor Diego Valásquez, na condição de mestre de cerimônias públicas era responsavel pela vestimenta da corte e pela realização das festas, já que os artistas eram considerados as pessoas de mais bom gosto na época.

Porém, foi a partir do século XX que a ligação entre as duas áreas se manifestou de maneira mais sistemática devido ao interesse de repensar a moda e empregar o vestuário como meio de expressão artistica e como expressão de uma ideologia e critica à sociedade. Os artistas contestavam a dominação da alta costura parisiense, considerando-a fútil e elitista, e defendiam roupas idealistas. Gustav Klimt foi um dos primeiros artistas a desenhar vestidos a serem executados por estilistas:

Klimt criou com a estilista Emilie Flöge (1874-1952), sua companheira de muitos anos que dirigia um dos ateliês de alta-costura mais conhecidos de Viena, uma série de túnicas soltas, que dispensavam o uso de espartilhos e eram ornamentadas com motivos brilhantes e contrastes de texturas. Com elas, vestiu muitas modelos de suas pinturas(...). Mas é no Retrato de Adele Bloch-Bauer I que ele alcança uma misteriosa sensualidade com a imersão de uma mulher em uma vestimenta de sonho, inspirada nos mosaicos de Ravena e em estampas caleidoscópicas(...).  (COSTA, 2009, p. 33)

            No século XIX, a criatividade fez com que a roupa antimoda e funcional dos artistas competisse com as extravagâncias da época por um certo tempo. Gustav Klimt atuou na moda devido a dois motivos: ele fazia parte do movimento reformista, do qual faziam parte intelectuais e artistas para criticar a moderna sociedade de Viena, e por influência de Emilie Floge, sua esposa e proprietária de uma das mais elegantes butiques vienenses. O grupo Klimt foi o único capaz de unir moda, arte, reforma e alcançar a opinião pública.

         Não se pode classificar Klimt como estilista, pois as roupas com motivos e adornos só foram usadas por modelos em suas telas e nunca se tornaram reais. As mulheres das obras de Klimt usam vestidos atuais com um toque de criatividade:


Klimt concebe o atual à sua maneira, com uma graciosa tendência àquele Nunca, saudado por Schiller como uma única eternidade possível, e com uma pitada de impossibilidade e adorável improbabilidade, que fazia parte do seus sonhos, realiza combinações encantadoras de elementos inesperados, agradáveis aos olhos e antes inimagináveis.” (BRANDSTATTER, 2000, p. 14)


Porém, a maioria dos artistas procuravam se distanciar seu trabalho que teve como suporte a roupa, as tendências da moda e da alta costura, com intenção de ter seu trabalho como objeto de arte e não como objeto de moda. Apenas alguns artistas começaram a interagir com a roupa como moda, os surrealistas:

No tacante do vestuário, muitos artistas souberam traduzir os postulados do Surrealismo por meio dele, pintando ou desenhando trajes, joias, acessórios e estamparias, inspirados em visões oníricas e eróticas, que testemunham a ânsia de liberdade total da imaginação que lhes era própria.  (COSTA, 2009, p. 48).

Parcerias entre artistas e estilistas tiveram grande destaque social e cultural: o pintor fovista Raoul Dufy que fornecia desenhos para estamparia para Paul Poiret; Elsa Schiaparelli (1890-1973) entrosava com os artistas surrealistas como Salvador Dalí; Yves Saint Laurent se inspirou na obra de Piet Mondrian para fazer um de seus vestidos mais famosos em 1965. Apesar de todos inspirarem na arte, eles estavam focados na moda, que é um fenômeno de massa e consumo.

Em 1913, em meio ao Futurismo, Giacomo Balla escreve um manifesto dizendo que “é preciso desconstruir o terno passadista epidérmico descorado fúnebre decadente tedioso anti-higienico”. Ele afirmava que pensamos e agimos como nos vestimos e por isso as roupas deveriam ter modificadores que se alteravam conforme a emoção de cada pessoa. De acordo com MÜLLER:

Giacomo Balla (...) passeia vestido de roupas quadriculadas e gravatas surpreendentes de celulóide, plástico, papelão ou madeira, ornamentadas de lâmpadas elétricas acionadas nos momentos mais eletrizantes da conversação. (MÜLLER, Florence em Arte e Moda (2000, p )

Na escola Bauhaus, não havia interesse em confeccionar vestimentas, mas eles se dedicavam à criação de tecidos de arte para depois serem usados como protótipos para a indústria. Em 1922, Oskar Schlemmer se propõe a fazer estudos de figurinos para o Balé Triádico, em que corpo e indumentária interagiam-se em uma totalidade com o espírito e o intelecto para os movimentos e performances. “A Bauhaus trouxe a idéia que se aplicou a todas as áreas, de que a função sobrepõe a forma, e passou-se a falar de funcionalidade também para a roupa e a moda.”.

Em 1964, Helio Oiticica cria o parangolé, que são capas coloridas para serem vestidas pelo espectador, e tinha a necessidade da musica, dança e movimento para que a obra pudesse ser completa. Como diz Helio em suas Anotações sobre o Parangolé:

O espectador veste a capa que se constitui de camadas de pano de cor que se revelam à medida que este se movimenta correndo ou dançando. A obra requer participação corporal direta; alem de vestir o corpo, pede que este se movimente, que dance em ultima analise.

Arte e moda estão muito próximas nos dias de hoje, e podemos dizer que ambas são modos de expressão cultural e refletem uma atitude. Porém com a diferença de que a moda é efêmera, e contrasta com a arte que foi feita para ser eterna. Ricardo Resende fala dessa distinção:

Ao considerar a moda como expressão cultural, e portanto artística, corremos o risco de sempre cairmos em retóricas e discussões acaloradas com os críticos e intelectuais que colocam a arte em uma redoma inacessível à grande maioria das pessoas. Mas nada mais presente em nosso cotidiano do que a roupa no gesto criativo que representa o ato de nos vestirmos. (MESQUITA, 2011, p. 103)

A partir disso, pode-se concluir que existe uma relação entre a arte e a moda, já que ambas são meios de expressão artística e criativa. O que diferencia a moda da arte é o fato de esta ser um produto de consumo de massa, um bem não durável, que modifica constantemente, ao contrário da arte.

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