segunda-feira, 18 de junho de 2012

A Moda (des)contruída

Por João Paulo Sousa e Natália Mendonça



Resumo: A desconstrução, um estudo filosófico que abrange várias áreas do conhecimento, tem em Jacques Derrida um de seus primeiros estudiosos e apresenta uma nova forma de se pensar. Em tal conceito, não há a intenção de destruir o objeto estudado mas sim dar-lhe uma nova estrutura e funcionamentos diferentes. Esse conceito ganha força na moda principalmente na década de 80 com a chegada dos japoneses na moda ocidental


Palavras chave: Desconstrução, Derrida, moda, Yohji Yamamoto

Desenvolvido pela primeira vez por Jacques Derrida em  1967 na obra publicada Gramatologia (São Paulo: Perspectiva, 2004) conceito de  ‘desconstrução’ foi tomado da arquitetura e significa a deposição, decomposição de uma estrutura. A desconstrução engloba  questões filosóficas, literárias, políticas e intelectuais que proporcionaram um abalo no pensamento ocidental, já que ele se apoiava, muitas vezes, em  relações binárias para estabelecer uma hierarquia ou supremacia de um termo sobre o outro. O trabalho de Jacques Derrida apresenta-se como um incessante trabalho de investigação que coloca sob suspeita os discursos da Filosofia e das Ciências Humanas, da Literatura e da História, da Fenomenologia e da Psicanálise, ao questionar, inclusive, o próprio conceito clássico de ciência.
A Desconstrução é comumente compreendida como um pensamento teórico que pretende dar um novo olhar às correntes hierárquicas sustentadoras do pensamento, tais como, dentro/fora; corpo/mente; fala/escrita; presença/ausência; natureza/cultura; forma/sentido. Derrida afirma que: “desconstruir a oposição significa, primeiramente, em um momento dado, inverter a hierarquia” ( Campos apude DERRIDA, p.48, 2001).
            Desconstruir algo é mostrar que ele não é natural e nem inevitável mas uma construção e mostrar que ela é uma construção num trabalho de desconstrução que busca desorganizá-la e reinscrevê-la, isto é, não destruí-la mas dar-lhe uma nova estrutura e funcionamentos diferentes.
Ao estudar a desconstrução, Jacques Derrida proporcionou significativos abalos no interior das Ciências Humanas e, por conseguinte, no interior dos discursos sobre a Literatura, ao promover a decomposição e a re-configuração desses mesmos discursos, de dentro e de fora, detonando, assim, a tranquilidade de como eram feitos os discursos. Assim, podemos aprender com Derrida, a "re-colocar, a cada vez, tudo em jogo, de acabar para recomeçar, de acabar por recomeçar. Não no sentido de esquecer o já sabido, de reinventar o mesmo, mas de se colocar a tarefa de redefinir as tonalidades do acontecimento" (Campos apude SISCAR, p.141, 2005)
Mas a desconstrução não é exclusivamente filosófica. Para além da Filosofia, podemos observar que a desconstrução apresenta-se como uma prática de leitura crítica, seja essa leitura de textos filosóficos, seja de textos literários podendo se expandir para a moda, o design, arquitetura e tantos outros campos do saber.


A desconstrução na Moda

Até meados da década de 80, a roupa era feita com todo o glamour, os estilistas sempre buscavam formas para o aperfeiçoamento de um bom acabamento, além de novas técnicas para que a roupa pudesse ser impecável e caísse como uma pluma no corpo das pessoas. No entanto, na década de 80, alguns estilistas japoneses passaram a produzir peças que não tinham mais todo o requinte exigido pelas pessoas, eles passaram a criar roupas não convencionais, estranhas aos olhos da maioria que as viam, desestruturadas, amassadas e até mesmo rasgadas. Há as peças em que as mangas foram transformadas em golas, bainhas deixaram de existir em algumas roupas ou começaram a ser feitas sem os detalhes de dobra, ficando até mesmo em overloques e mostrando os desfiados do tecido. Como também, a linha base da roupa que é perpendicular ao chão, foi deslocada.
A desconstrução de moda veio para colocar um pouco de polêmica no mundo na moda. Esse estilo traz um novo conceito. O conceito de que uma peça pode ter várias outras funções e gerar outras formas cujos nossos cérebros não estão acostumados a ver. Quem já pensou em ter uma saia feita de mangas ou um macacão feito por uma camisa ao contrário? É um tema que induz as pessoas a pensarem no que estão vestindo e a sair um pouco dessa tendência de todos vestirem o que está na moda.
Para complementar esse assunto, nada melhor que pegar como exemplo um dos maiores nomes desse gênero, Yohji Yamamoto, que desde a década de 80 já trabalha de forma expressiva e dramática suas criações. Um autêntico alfaiate, assim chamado porque não gosta do termo estilista, anti-moda.  Suas obras não seguem tendências e critica a rapidez no ciclo de vida de uma roupa, preferindo criar roupas atemporais. Além de todo esse feitio, as roupas de Yamamoto despertam um fascínio pela técnica de construção, pelo seu jeito discreto e sombrio de ser. Seus desfiles são conceituais, e em suas modelagens que são bastante desconstruídas tenta retratar seu cotidiano não estando interessado na moda, em geral e sim interessado em como cortar roupas. Outro estilista que se destaca pela modelagem desconstruída é Rei Kawakubo, mais conhecida como a arquiteta do vestido. Tendo todo seu processo de produção bastante conceitual. 

Desconstruir é pegar ao pé da letra, ter uma peça com inúmeras possibilidades de feitios e funções. É pegar uma blusa, desconstruí-la e criar outras inúmeras blusas, calças saias e até mesmo peças que não são roupas, como por exemplo, bolsas e acessórios. E olhar uma roupa pensando em outras conexões.





Referências bibliográficas:
Jacques Derrida e a Desconstrução: uma introdução - Neurivaldo Campos Pedroso Junior - Revista Encontros de Vista - quinta edição

BERWIAN,  Fernanda. MORELLI, Graziella, Projeto de desenvolvimento de coleção de vestidos a partir da desconstrução da camisa. Disponível em:  http://siaibib01.univali.br/pdf/Fernanda%20Berwian.pdf  Último acesso em: 18/06/2012 ás 16:30h

Um comentário:

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