O artigo em questão propõe
investigar o processo de construção da identidade de um grupo comunitário, a
partir dos fragmentos e elementos culturais encontrados na favela, tendo o seu
ponto de partida e referência na técnica do patchwork. A estruturação do patch e os conceitos
de construção deste painel são somados à metodologia do design, o que auxilia
uma agregação de valores para os objetos produzidos por beneficiárias do
projeto de extensão ASAS-Artesanato Solidário no Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte.
Palavras-chave:
Identidade, favela, construção, cores e texturas, moda,
elementos, fragmentos, artesanato, design, desenvolvimento e vivência.
Para muitos, viver de certa forma, se vestir e comportar
perante a sociedade representa o que de fato esse sujeito é. Como em Luxo Aglomerado de
Silvia Pio.
“As roupas
e toda a composição da moda, em qualquer indivíduo têm função de gerar
identidade, e identificar não só perante os outros, mas também a si mesmo.
Determinados grupos são identificados a partir da cor e estilo que se vestem,
outros apenas por acessórios, isso ocorre em qualquer parte da cidade, na
cidade formal e nos aglomerados” PIO, Silvia. Luxo Aglomerado, 2010.
O sujeito pós- moderno, como é
chamado hoje, passou por vários conceitos e situações que exemplificam as
mudanças nas características pessoais e sociais do sujeito. A concepção mais interativa da identidade e
do eu que ocorre na pós- modernidade foi modificada e formada na sociedade,
enquanto essência interior. Como na citação de Stuart Hall (em A identidade
cultural na pós- modernidade): “ a pós- modernidade traz com os veículos de
informação mais imagens e conceitos que influenciam o indivíduo com sua própria
identidade cultural, tornando-o mais provisório, variável e problemático.”
(HALL, pág 14, 2007)
Como, então, encontrar e valorizar
uma identidade tão vulnerável a seus estímulos, e, com isso, apresentá-la de
forma singular vindo esta de uma comunidade carente.
A técnica artesanal do Patchwork,
que remonta ao tempo dos faraós ainda no século IX a. C., é bastante utilizada
pelo seu caráter de trabalhar com tecidos, de diferentes tamanhos e formas, o
que se pode fazer como reaproveitamento dos mesmos. É uma arte que consiste na
união de vários retalhos em formas geométricas que formam um mosaico, e podem
ser utilizados em roupas, colchas, almofadas, objetos artesanais, etc.
Podemos
considerar uma arte totalmente sustentável, pois ela é feita com restos de
tecidos, sendo assim um reaproveitamento, que possibilita um trabalho
diferenciado, peças criativas e exclusivas. Atualmente
grandes indústrias têxteis desenvolvem tecidos especiais para o patchwork, assim como existem revistas,
materiais e ferramentas que visam facilitar o trabalho.
Observa-se uma forte identidade no
patchwork, cada cultura, cada tribo consegue fazê-lo de diferentes
maneiras e formas, atribuindo assim características fortes e dando-lhe
identidades. Sua construção a partir dos fragmentos encontrados na favela traz
signos e símbolos próprios, podendo, assim, apresentar uma identidade.
A moda e seus artifícios na
construção e percepção trazem inúmeras formas, cores e texturas que conceitualizadas
dentro da favela, podem apresentar o que é mais simples e forte de uma
comunidade, e, consequentemente, do que se encontra no piso de uma sociedade.
O projeto de extensão ASAS-
Artesanato Solidário no Aglomerado da Serra, da Universidade Fumec, é
caracterizado pela capacitação de beneficiários da comunidade da Serra, na qual
são feitas oficinas pelos próprios alunos da
universidade. O projeto conta com processos produtivos complementares com intuito de gerar
renda aos beneficiários da comunidade. O design contemporâneo aliado ao
artesanato urbano são os conceitos trabalhados nas oficinas de capacitação para
o desenvolvimento e confecção de produtos com alto valor agregado, que são
vendidos em lojas parceiras ao projeto. E todo dinheiro da venda dos produtos
são destinados às artesãs do projeto.
Com isso, os alunos bolsistas e voluntários
participam de todo o processo desde a sua concepção, passando pelo
desenvolvimento e planejamento das atividades, até a realização das oficinas. O
projeto é um grupo, onde todos exercitam suas funções em seu núcleo produtivo.
O trabalho com a técnica do patch agregado aos conceitos do design e
do artesanato foi feito com o intuito de desenvolver produtos com
características da própria comunidade. Parte do princípio da geração de renda,
mas com o empoderamento dos elementos em seus produtos que pertencem à
realidade vivida na favela. Dá-se aí o trabalho de expressar a identidade
cultural e estética.
Ruas desniveladas, casas com
tamanhos variados, frutas, verduras, coletivos, pichações, cães, gatos,
periquitos e tudo que se vê na favela serviram como base ao trabalhar com a
técnica do patch e sua estruturação. Tudo é observado e dialogado na escolha
dos tecidos ou de outras fontes para a criação de um painel, por exemplo.
Tecidos pardos, estampados de frutas, listrados, retalhos pequenos, grandes,
retângulos e quadrados. Assim, deu-se o início para o processo da construção de
identidade na comunidade.
Neste projeto realizado percebe-se
que cada um se expressa de um jeito, o que nos apresenta essa diferenciação.
Essa mistura entre o design e o artesanato possibilita um trabalho moderno e
atemporal. Este projeto proporciona à comunidade uma renda extra, estimula a
criatividade e autoestima e traz novas possibilidades de crescimento e
trabalho, valorizando cada criador por sua autenticidade.
Esse diálogo entre os conceitos de
identidade e a técnica torna-se necessário para a efetivação, estética ou não,
de quem é esse sujeito nacional.
Bibliografia
CASTIL, William “ Dinâmica de
Grupos Populares”, 1997.
CRANE, Diana “ A moda e seu papel
social: classe, gênero e a identidade das roupas.”
JACQUES, Paola “ Estética da
Ginga- Arquitetura das Favelas através da obra de Helio Oticia”, 2001.
GARCIA, Nestor “ Culturas
Híbridas”, 2001.
HALL, Stuarte “ A identidade
cultural na pós- modernidade”, 2007.
PIO, Silvia. Luxo Aglomerado. Belo
Horizonte: Fumec/ Fea, 2010.
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