segunda-feira, 2 de julho de 2012

Fotografia de Moda, um breve histórico

Por Thiago Bernardo

“A foto de moda não é uma reportagem, mas uma visão. O fotógrafo, como um mágico, conjuga pessoas perfeitas em um mundo idealizado, os belos e bonitos, sob sua batuta como um deus criador. A apoteose da minoria, um hino ao estilo. Porém seu afã de aliviar sua culpa, frequentemente trazer a realidade para sua fotografia de moda, procura temas fora do mundo exclusivo das roupas e encontra em todos os lugares evidências de uma realidade imperfeita e terrível.”

Richard Bailey

A invenção da fotografia, em 1826 por Nicéphore Nièpce, trouxe mudanças na percepção visual, histórica e técnica na sociedade moderna. Com sua consolidação passou a substituir os pintores de oficio (retratos, vistas de cidades e de campos, reportagens e ilustrações) e elevou a arte a um outro nível. A crise gerada pela representação fotográfica gerou uma cisma entre os simbolistas que acreditavam que fotografia superava a pintura na representação da realidade e dos impressionistas, que acreditavam na simbiose das técnicas. De fato com a fotografia podia-se ver muitos detalhes que passavam despercebidos pela percepção visual, além disso com a fotografia conseguia-se uma imagem destituída de traços, composta apenas por manchas e linhas.
         A reprodutibilidade, a diminuição dos tempos de exposição e a representação realística , assim como a sua rápida propagação industrial, fizeram com que rapidamente o olhar modificasse para o foce e desfoque gerados pela objetiva das câmeras. A fotografia passou também a ter significado, atribuíram-lhe análises semióticas para decifrar seus signos. Portanto, a fotografia  muda de nível, antes de apenas um novo modo de representar fielmente a realidade e agora para um novo meio de observar e analisar o mundo. Com esse desenvolvimento surgem grandes nomes como Nadar, que mesmo nos 1800 já era reconhecido por sua produção fotográfica.
         Embora se possa fazer uma estudo sobre a historia da moda através das fotografias, a relação entre moda e fotografia como conhecida hoje é bem recente. A partir de 1909 a fotografia passou a estar presente nas revistas de moda para retratar a alta-costura e substituir as ilustrações. Um dos principais nomes é o Barão Adolf de Meyer, precursor da fotografia de moda e que mais tarde tornou-se fotografo chefe da Vogue e em seguida da Harper’s Bazaar. Nos anos 1920 e 1930 a Man Ray e Edwar Steichen começam a desenvolver fotografias mais experimentais e surrealistas, criando assim um identidade para a fotografia de moda. Nos anos 1932 foi publicada a primeira fotografia de moda colorida.   
Nos anos 1940 e 1950, Irving Penn e Richard Avedon criaram uma nova estética fotográfica, aliada a emancipação feminina. A figura feminina agora é o foco da representação, apresentada de forma moderna e independente.  A figura do fotografo também muda. Rcihard Bailey noa anos 1960 foi um exemplo. Bailey foi inspiração para o personagem principal do filme Blow-up.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Arte e Moda

Por Laurie Venturi e Priscyla Abreu


ARTE E MODA

A partir do seculo XIV, quando passaram a ser diferenciadas as roupas dos nobres das roupas do clero, é que começou a se pensar na roupa como moda. Como afirma o trecho do livro Roupa de Artista:

Foi somente em meados do século XIV que reis e nobres, principalmente na Corte da Borgonha, contrariados por verem suas roupas copiadas pela burguesia, passaram a usar modelos diferenciados que, ao serem novamente imitados, eram descartados e substituídos por outros, ainda exclusivos. Estabeleceu-se, assim, um ciclo de criação e cópia, novidade e imitação que até hoje nos é familiar. (COSTA, 2009, p. 13)

         No século XVII já é possível se estabelecer uma relação entre a arte e a moda, exemplo disso é a corte espanhola onde o pintor Diego Valásquez, na condição de mestre de cerimônias públicas era responsavel pela vestimenta da corte e pela realização das festas, já que os artistas eram considerados as pessoas de mais bom gosto na época.

Porém, foi a partir do século XX que a ligação entre as duas áreas se manifestou de maneira mais sistemática devido ao interesse de repensar a moda e empregar o vestuário como meio de expressão artistica e como expressão de uma ideologia e critica à sociedade. Os artistas contestavam a dominação da alta costura parisiense, considerando-a fútil e elitista, e defendiam roupas idealistas. Gustav Klimt foi um dos primeiros artistas a desenhar vestidos a serem executados por estilistas:

Klimt criou com a estilista Emilie Flöge (1874-1952), sua companheira de muitos anos que dirigia um dos ateliês de alta-costura mais conhecidos de Viena, uma série de túnicas soltas, que dispensavam o uso de espartilhos e eram ornamentadas com motivos brilhantes e contrastes de texturas. Com elas, vestiu muitas modelos de suas pinturas(...). Mas é no Retrato de Adele Bloch-Bauer I que ele alcança uma misteriosa sensualidade com a imersão de uma mulher em uma vestimenta de sonho, inspirada nos mosaicos de Ravena e em estampas caleidoscópicas(...).  (COSTA, 2009, p. 33)

            No século XIX, a criatividade fez com que a roupa antimoda e funcional dos artistas competisse com as extravagâncias da época por um certo tempo. Gustav Klimt atuou na moda devido a dois motivos: ele fazia parte do movimento reformista, do qual faziam parte intelectuais e artistas para criticar a moderna sociedade de Viena, e por influência de Emilie Floge, sua esposa e proprietária de uma das mais elegantes butiques vienenses. O grupo Klimt foi o único capaz de unir moda, arte, reforma e alcançar a opinião pública.

         Não se pode classificar Klimt como estilista, pois as roupas com motivos e adornos só foram usadas por modelos em suas telas e nunca se tornaram reais. As mulheres das obras de Klimt usam vestidos atuais com um toque de criatividade:


Klimt concebe o atual à sua maneira, com uma graciosa tendência àquele Nunca, saudado por Schiller como uma única eternidade possível, e com uma pitada de impossibilidade e adorável improbabilidade, que fazia parte do seus sonhos, realiza combinações encantadoras de elementos inesperados, agradáveis aos olhos e antes inimagináveis.” (BRANDSTATTER, 2000, p. 14)


Porém, a maioria dos artistas procuravam se distanciar seu trabalho que teve como suporte a roupa, as tendências da moda e da alta costura, com intenção de ter seu trabalho como objeto de arte e não como objeto de moda. Apenas alguns artistas começaram a interagir com a roupa como moda, os surrealistas:

No tacante do vestuário, muitos artistas souberam traduzir os postulados do Surrealismo por meio dele, pintando ou desenhando trajes, joias, acessórios e estamparias, inspirados em visões oníricas e eróticas, que testemunham a ânsia de liberdade total da imaginação que lhes era própria.  (COSTA, 2009, p. 48).

Parcerias entre artistas e estilistas tiveram grande destaque social e cultural: o pintor fovista Raoul Dufy que fornecia desenhos para estamparia para Paul Poiret; Elsa Schiaparelli (1890-1973) entrosava com os artistas surrealistas como Salvador Dalí; Yves Saint Laurent se inspirou na obra de Piet Mondrian para fazer um de seus vestidos mais famosos em 1965. Apesar de todos inspirarem na arte, eles estavam focados na moda, que é um fenômeno de massa e consumo.

Em 1913, em meio ao Futurismo, Giacomo Balla escreve um manifesto dizendo que “é preciso desconstruir o terno passadista epidérmico descorado fúnebre decadente tedioso anti-higienico”. Ele afirmava que pensamos e agimos como nos vestimos e por isso as roupas deveriam ter modificadores que se alteravam conforme a emoção de cada pessoa. De acordo com MÜLLER:

Giacomo Balla (...) passeia vestido de roupas quadriculadas e gravatas surpreendentes de celulóide, plástico, papelão ou madeira, ornamentadas de lâmpadas elétricas acionadas nos momentos mais eletrizantes da conversação. (MÜLLER, Florence em Arte e Moda (2000, p )

Na escola Bauhaus, não havia interesse em confeccionar vestimentas, mas eles se dedicavam à criação de tecidos de arte para depois serem usados como protótipos para a indústria. Em 1922, Oskar Schlemmer se propõe a fazer estudos de figurinos para o Balé Triádico, em que corpo e indumentária interagiam-se em uma totalidade com o espírito e o intelecto para os movimentos e performances. “A Bauhaus trouxe a idéia que se aplicou a todas as áreas, de que a função sobrepõe a forma, e passou-se a falar de funcionalidade também para a roupa e a moda.”.

Em 1964, Helio Oiticica cria o parangolé, que são capas coloridas para serem vestidas pelo espectador, e tinha a necessidade da musica, dança e movimento para que a obra pudesse ser completa. Como diz Helio em suas Anotações sobre o Parangolé:

O espectador veste a capa que se constitui de camadas de pano de cor que se revelam à medida que este se movimenta correndo ou dançando. A obra requer participação corporal direta; alem de vestir o corpo, pede que este se movimente, que dance em ultima analise.

Arte e moda estão muito próximas nos dias de hoje, e podemos dizer que ambas são modos de expressão cultural e refletem uma atitude. Porém com a diferença de que a moda é efêmera, e contrasta com a arte que foi feita para ser eterna. Ricardo Resende fala dessa distinção:

Ao considerar a moda como expressão cultural, e portanto artística, corremos o risco de sempre cairmos em retóricas e discussões acaloradas com os críticos e intelectuais que colocam a arte em uma redoma inacessível à grande maioria das pessoas. Mas nada mais presente em nosso cotidiano do que a roupa no gesto criativo que representa o ato de nos vestirmos. (MESQUITA, 2011, p. 103)

A partir disso, pode-se concluir que existe uma relação entre a arte e a moda, já que ambas são meios de expressão artística e criativa. O que diferencia a moda da arte é o fato de esta ser um produto de consumo de massa, um bem não durável, que modifica constantemente, ao contrário da arte.

Tendências que vem da rua

O que os fashionistas usam de maquiagem e cabelo para assistir os desfiles internacionais, são apontados como tendência de estilo e comportamento.

1- A beleza natural nunca sai de moda:
Rostos Frescos, estar maquiada sem parecer estar, apenas uma pele bonita e luminosa. Nos olhos uma fina camada de rímel. Lábios rosas ou apenas hidratados.
2- Red lipstick:
Batom vermelho é uma beleza atemporal. Olho minimalista, com um vermelho perfeitamente aplicada lábio. Matte é usado para acabamento seco.


3- 50s rockabilly: 
Esse tipo de beleza é muito popular em Londres.
Bettie Page, Kat Von D e Dita Von Teese, são as fontes de inspiração. Fortes sobrancelhas arqueadas, preenchido com lápis e pó de sobrancelha um tom mais escuro que a cor natural do cabelo.
Batom vermelho classic ou rosa. Lenços de cabeça para completar o look.


4- Olhos divertidos:
Cores divertidas nos olhos. Traço rente ao cílios superior e/ou inferior.


5-Lábios profundos:

Recorda a antiga Hollywood, look glamuroso. As cores são: blackberry, bordeaux, cereja ao preto-roxo / Matte para acabamento seco. Delineador de lábios para forma precisa . Sobrancelhas bem cuidadas garantem um visual limpo, com atenção na boca.


6- Pink Ladies:
O rosa pop garante diversão ao look.
7-Tranças:
Recebem um tratamento criativo.


8- Mini frangas:
1950 Bettie Page, Katy Perry e influências Rooney Mara, corte chamado Blunt.
Como o rosto fica muito a mostra com esse corte, a maquiagem e sobrancelha deve estar impecável.




9-Cabelos pasteis.
Pastéis lavadas são um sucesso com público mais novo.


Rosa de algodão doce, sorvete, máscaras de sonho lilás são os favoritos. Aplicado apenas para pontas do cabelo ou em toda extensão.


10- Unhas


Pastéis consideravelmente florais são a cor das unhas atual de escolha.
Menta cremosa, pétala rosa, lilás cintilante, limão chiffon. Várias cores são usadas nas mãos.










domingo, 24 de junho de 2012

Breve historia sobre o surgimento do graffiti


Por: Brisa Drumond

Resumo: O graffiti existe desde os primórdios da humanidade, surge antes mesmo da escrita, com a necessidade de expressão. Nessa breve história sobre o surgimento do graffiti, relatamos seu aparecimento em Paris, New York e São Paulo.

Palavras chave: Graffiti, expressão, história, Paris, New York, São Paulo.



O grafite existe desde os primórdios da humanidade, com a necessidade de expressão e cultos da vida cotidiana. As primeiras imagens pintadas à mão nas paredes das cavernas, simplificadas e primitivas, narravam entre outros, o êxito da caçada e a importância do animal abatido para a sobrevivência da tribo, sendo as primeiras representações do que viria a ser escrita e a arte.
Derivado da palavra italiana sgraffito, a origem da palavra se deu no Império Romano, para denominar as inscrições feitas nas paredes. O grafite, como se entende hoje, é considerado uma forma de expressão incluída no âmbito das artes visuais,  mais especificamente, da street art ou arte urbana.
Essa arte de rua se faz em forma de inscrições caligrafadas ou desenhos pintados ou gravados sobre suportes que normalmente não são previstos para esta finalidade.  O artista aproveita os espaços públicos, criando uma linguagem intencional para interferir na cidade. Embora a língua inglesa use o termo graffiti para ambas as expressões, no Brasil distinguem essa prática desdobrando-a entre o grafite, e a pichação.
Normalmente distingue-se o grafite, de elaboração mais complexa, da simples pichação, esta ultima quase sempre considerada como marginalizada. A pichação predomina nas capitais, é o ato de escrever ou rabiscar sobre muros, fachadas de edificações, asfalto de ruas ou monumentos. No geral, são escritas frases de protesto ou insulto, assinaturas pessoais ou mesmo declarações de amor. Alem disso a pichação também é utilizada como forma de demarcação de territórios entre grupos, às vezes gangues rivais. Por isso difere-se do grafite, uma outra forma de inscrição ou desenho. Este ainda quando explorada em galerias ou encomendas por particulares, como forma de ambientação ganha o nome de muralismo.
Entretanto ciente da hibridez dessas linguagens, sabe-se que todo o grafite tem um pouco de muralismo e de pichação. A palavra graffiti, será então usada como uma forma mais ampla para todas as manifestações do gênero.
Embora tenham na sociedade compreensões e aceitações divergentes, grafite e pichação se confundem em sua história, pois nascem com a mesma essência de livre expressão, com uma natureza de transgressão e deboche.
Na Paris de 1968, surgiram as primeiras manifestações do graffiti moderno, a partir de um movimento de opressão política que resultou em rebeliões de rua. Conforme afirma Célia Antonacci, autora de “Grafite, Pichação & Cia”, foram registradas em muros palavras de ordem: “La liberté c’est e crime qui contient tous lês crimes”, ou de protesto “La Bourgeoisie n’a pás d’autre plasir que celui de lês dégrader tous”. Foi a partir desse despertar parisiense que as pessoas perceberam a possibilidade de registrar mensagens livres, descompromissadas, anônimas e gratuitas.
Mas foi em New York, no final da década de 1970, com sua configuração singular na qual se encontravam, lado a lado, as ruas sujas do Harlem e o ambiente glamouroso da Broadway. Reunindo diferentes culturas e problemas sociais em um mesmo lugar. Ganharam vida nas paredes dos guetos e muros da periferia, essa expressão gráfica que contaminou o mundo.
Essa rebelião inicial consistia em dizer: “Eu existo, eu sou o tal, eu habito esta ou aquela rua, eu vivo aqui e agora”. (Baudrillard, 1979, p.37). Seu conteúdo era formado de tags que se consiste em escritos curtos e rápidos, são apenas nomes e sobrenomes, ou talvez pseudônimos e endereços. Essas tags ficavam cada vez maiores e unidas com desenhos, muitas vezes retirados de historias em quadrinhos, tomam a cidade desenhadas nos trens dos metrôs. Em meados dos anos 1980, afirma-se, não haver um único trem em New York que não tivesse sido pintado com sprays, de cima a baixo, pelo menos uma vez, antes de serem limpos pelas autoridades.    
Segundo a autora Célia Antonacci, esses graffitis surpreenderam a população, afugentavam os turistas e foram combatidos pela polícia, e conduziam alguns de seus autores à cadeia, enquanto outros eram conduzidos às mais importantes galerias, bienais e museus de arte, não só nos Estados Unidos como do mundo todo.
Nesta mesma época o graffiti se espalha na Europa nas principais cidades e recebe influência também do movimento punk. Londres, Amsterdam, Madri são tomadas e ate o muro de Berlim , com 4,5m de altura por 166km de extensão, símbolo do autoritarismo, foi preenchido por centenas ou milhares de imagens ao longo, de aproximadamente, cinco anos, antes de vir abaixo e de ter seus pedaços comercializados.
O Brasil tem São Paulo como à capital do seu graffiti. Por volta de 1976, lia-se nos muros da cidade a inscrição: cão fila. Anônima e insistente, essa inscrição provocou a curiosidade de todos. Até ser desvendado seu significado: se tratava de uma nova raça de cachorro. Pouco depois uma enorme quantidade de poemas dialogavam com a cidade, e procuravam espaço em uma sociedade pós-ditadura. 

Segundo Décio Pignatari:

“... a novidade estaria assim: Paris, maio de 68, FILÓSOFOS (sic.), e, NY, 60 a 70, ARTISTAS VISUAIS (sic.), e no Brasil, São Paulo particularmente, POETAS (sic.), e essa é a sua grande originalidade, pois a massa iniciativa aqui, foi comandada por poetas.” (apud Fonseca, s/d: 41)

A idéia modernista de dessacralização da arte e do rompimento dos limites entre cultura erudita e popular, radicada com a Pop Arte nos anos 50 e 60, atingiu uma forma radical com o graffiti. De baixo custo e acessível a qualquer um com coragem para enfrentar a falta de compreensão inicial, o graffiti possibilitou uma nova percepção da arte. Com ele a arte foi realmente para a rua e interagiu com o espaço público e a dinâmica da vida urbana. Ela não estava mais restrita ao privado, a galeria e museus. E assim o graffiti e suas mais diversas representações estéticas tomam as principais cidades do mundo.
O estilo de cada artista de rua é desenvolvido sem nenhuma restrição, com a utilização de ferramentas que vão muito alem das latas de spray, um ícone do movimento. É comum o uso de stickers (adesivos), pôsteres, estênceis, aerógrafos, pastéis oleosos, todas as variedades de tintas e até mesmo de esculturas. Surge também o light graffiti ou grafite de luz, feita com o uso de luzes e fotografia de exposição prolongada.
Os desenhos e escrituras com proporções distorcidas exploram a noção do irreal, dos sonhos e do imaginário coletivo. Os graffiti são signos a serem lidos, presentes nos muros das metrópoles fazem parte da vida do homem moderno.
As primeiras manifestações artísticas do século XX caracterizam-se pela ruptura com o passado e pelo intuito de chocar a opinião pública, pregando idéias radicalmente novas. Os movimentos de vanguarda européia influenciaram de forma incontestável no surgimento do Modernismo brasileiro, que por sua vez, vão todas juntas, misturar e influenciar a arte de rua.
No livro “Na rua: pós-grafite, moda e vestígios”, as organizadoras Cássia Macieira e Julia Pontes, discutem, o significado e a percepção destes vestígios urbanos na cidade de Belo Horizonte.  Fazem uma analogia da cidade com o corpo, essas inscrições aparecem na pele da atmosfera urbana, assim como cicatrizes ao longo de uma vida.
Ainda, segundo Rüthschilling em seu livro “Design de Superfície”, as superfícies são elementos delimitadores das formas. Estão em toda parte e sempre foram receptáculo para expressão humana. São entendidas como um elemento passível de ser projetado, do qual seu comprimento e largura são medidas significantemente superiores à espessura, apresentando resistência física suficiente para lhe conferir existência. É na superfície das cidades que o grafite encontra seu suporte.

“O design de superfície é uma atividade criativa e técnica que se ocupa com a criação e desenvolvimento de qualidades estéticas, funcionais e estruturais, projetadas especificamente para constituição e/ou tratamentos de superfícies, adequadas ao contexto sócio- cultural e às diferentes necessidades e processos produtivos.” (RUTHSCHILLING, 2008, p 24)



Bibliografia:

GANZ, Nicholas. O Mundo do Grafite: arte urbana dos cinco continentes. São Paulo: Livraria Martis Fontes Editora Ltda, 2010.  

ANTONACCI, Cecília. Grafite, pichação e Cia.





Diálogo entre identidade e técnica.

Por: Camila Sudano e Isabela Bernardes



O artigo em questão propõe investigar o processo de construção da identidade de um grupo comunitário, a partir dos fragmentos e elementos culturais encontrados na favela, tendo o seu ponto de partida e referência na técnica do patchwork.  A estruturação do patch e os conceitos de construção deste painel são somados à metodologia do design, o que auxilia uma agregação de valores para os objetos produzidos por beneficiárias do projeto de extensão ASAS-Artesanato Solidário no Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte.
Palavras-chave:
Identidade, favela, construção, cores e texturas, moda, elementos, fragmentos, artesanato, design, desenvolvimento e vivência.

Para muitos, viver de certa forma, se vestir e comportar perante a sociedade representa o que de fato esse sujeito é. Como em Luxo Aglomerado de Silvia Pio.

“As roupas e toda a composição da moda, em qualquer indivíduo têm função de gerar identidade, e identificar não só perante os outros, mas também a si mesmo. Determinados grupos são identificados a partir da cor e estilo que se vestem, outros apenas por acessórios, isso ocorre em qualquer parte da cidade, na cidade formal e nos aglomerados” PIO, Silvia. Luxo Aglomerado, 2010.

O sujeito pós- moderno, como é chamado hoje, passou por vários conceitos e situações que exemplificam as mudanças nas características pessoais e sociais do sujeito.  A concepção mais interativa da identidade e do eu que ocorre na pós- modernidade foi modificada e formada na sociedade, enquanto essência interior. Como na citação de Stuart Hall (em A identidade cultural na pós- modernidade): “ a pós- modernidade traz com os veículos de informação mais imagens e conceitos que influenciam o indivíduo com sua própria identidade cultural, tornando-o mais provisório, variável e problemático.” (HALL, pág 14, 2007)
Como, então, encontrar e valorizar uma identidade tão vulnerável a seus estímulos, e, com isso, apresentá-la de forma singular vindo esta de uma comunidade carente.
A técnica artesanal do Patchwork, que remonta ao tempo dos faraós ainda no século IX a. C., é bastante utilizada pelo seu caráter de trabalhar com tecidos, de diferentes tamanhos e formas, o que se pode fazer como reaproveitamento dos mesmos. É uma arte que consiste na união de vários retalhos em formas geométricas que formam um mosaico, e podem ser utilizados em roupas, colchas, almofadas, objetos artesanais, etc.
Podemos considerar uma arte totalmente sustentável, pois ela é feita com restos de tecidos, sendo assim um reaproveitamento, que possibilita um trabalho diferenciado, peças criativas e exclusivas. Atualmente grandes indústrias têxteis desenvolvem tecidos especiais para o patchwork, assim como existem revistas, materiais e ferramentas que visam facilitar o trabalho.
Observa-se uma forte identidade no patchwork, cada cultura, cada tribo consegue fazê-lo de diferentes maneiras e formas, atribuindo assim características fortes e dando-lhe identidades. Sua construção a partir dos fragmentos encontrados na favela traz signos e símbolos próprios, podendo, assim, apresentar uma identidade.
A moda e seus artifícios na construção e percepção trazem inúmeras formas, cores e texturas que conceitualizadas dentro da favela, podem apresentar o que é mais simples e forte de uma comunidade, e, consequentemente, do que se encontra no piso de uma sociedade.
O projeto de extensão ASAS- Artesanato Solidário no Aglomerado da Serra, da Universidade Fumec, é caracterizado pela capacitação de beneficiários da comunidade da Serra, na qual são feitas oficinas pelos próprios alunos da universidade. O projeto conta com processos produtivos complementares com intuito de gerar renda aos beneficiários da comunidade. O design contemporâneo aliado ao artesanato urbano são os conceitos trabalhados nas oficinas de capacitação para o desenvolvimento e confecção de produtos com alto valor agregado, que são vendidos em lojas parceiras ao projeto. E todo dinheiro da venda dos produtos são destinados às artesãs do projeto.
Com isso, os alunos bolsistas e voluntários participam de todo o processo desde a sua concepção, passando pelo desenvolvimento e planejamento das atividades, até a realização das oficinas. O projeto é um grupo, onde todos exercitam suas funções em seu núcleo produtivo.
O trabalho com a técnica do patch agregado aos conceitos do design e do artesanato foi feito com o intuito de desenvolver produtos com características da própria comunidade. Parte do princípio da geração de renda, mas com o empoderamento dos elementos em seus produtos que pertencem à realidade vivida na favela. Dá-se aí o trabalho de expressar a identidade cultural e estética.
Ruas desniveladas, casas com tamanhos variados, frutas, verduras, coletivos, pichações, cães, gatos, periquitos e tudo que se vê na favela serviram como base ao trabalhar com a técnica do patch e sua estruturação. Tudo é observado e dialogado na escolha dos tecidos ou de outras fontes para a criação de um painel, por exemplo. Tecidos pardos, estampados de frutas, listrados, retalhos pequenos, grandes, retângulos e quadrados. Assim, deu-se o início para o processo da construção de identidade na comunidade. 
Neste projeto realizado percebe-se que cada um se expressa de um jeito, o que nos apresenta essa diferenciação. Essa mistura entre o design e o artesanato possibilita um trabalho moderno e atemporal. Este projeto proporciona à comunidade uma renda extra, estimula a criatividade e autoestima e traz novas possibilidades de crescimento e trabalho, valorizando cada criador por sua autenticidade.
Esse diálogo entre os conceitos de identidade e a técnica torna-se necessário para a efetivação, estética ou não, de quem é esse sujeito nacional.


Bibliografia
CASTIL, William “ Dinâmica de Grupos Populares”, 1997.
CRANE, Diana “ A moda e seu papel social: classe, gênero e a identidade das roupas.”
JACQUES, Paola “ Estética da Ginga- Arquitetura das Favelas através da obra de Helio Oticia”, 2001.
GARCIA, Nestor “ Culturas Híbridas”, 2001.
HALL, Stuarte “ A identidade cultural na pós- modernidade”, 2007.
PIO, Silvia. Luxo Aglomerado. Belo Horizonte: Fumec/ Fea, 2010.

Graffito


O movimento do graffiti serve de inspiração para esse editorial, que tem a atenção voltada para a estamparia maximalista.

A estética do graffiti, com toda sua peculiaridade, faz parte do visual urbano: do mais simples traçar de linhas com caligrafia própria e imagens que se repetem em série a até grandes painéis com desenhos elaborados.

O graffiti é o registro do sujeito do nosso tempo, que usa da liberdade de expressão e de sua imaginação para recriar a realidade animada. Imagens fake e cores sintéticas vindas das latas de spray fazem parte tanto deste movimento, como desta estamparia.

Para uma moda streetwear e jovem, tecido sport de alta qualidade foi usado O tênis, aparece como calçado, pensando no dinamismo de uma vida agitada na urbe. A modelagem é funcional e contemporânea.

A tecnologia digital é usada na estampara. Cores vibrantes e desenhos surrais garantem uma estampa alegre e inusitada. Descolada.



Ficha Técnica

Produção: Brisa Drumod
Fotografia: Eliana Gomes Soares
Edição: Brisa Drumond e Eliana Gomes Soares
Modelo: Bárbara Albuquerque, Luma Albuquerque, Júlia Drumond e Juliana Zeymer
Cabelo e Maquiagem: Brisa Drumond



segunda-feira, 18 de junho de 2012

A Moda (des)contruída

Por João Paulo Sousa e Natália Mendonça



Resumo: A desconstrução, um estudo filosófico que abrange várias áreas do conhecimento, tem em Jacques Derrida um de seus primeiros estudiosos e apresenta uma nova forma de se pensar. Em tal conceito, não há a intenção de destruir o objeto estudado mas sim dar-lhe uma nova estrutura e funcionamentos diferentes. Esse conceito ganha força na moda principalmente na década de 80 com a chegada dos japoneses na moda ocidental


Palavras chave: Desconstrução, Derrida, moda, Yohji Yamamoto

Desenvolvido pela primeira vez por Jacques Derrida em  1967 na obra publicada Gramatologia (São Paulo: Perspectiva, 2004) conceito de  ‘desconstrução’ foi tomado da arquitetura e significa a deposição, decomposição de uma estrutura. A desconstrução engloba  questões filosóficas, literárias, políticas e intelectuais que proporcionaram um abalo no pensamento ocidental, já que ele se apoiava, muitas vezes, em  relações binárias para estabelecer uma hierarquia ou supremacia de um termo sobre o outro. O trabalho de Jacques Derrida apresenta-se como um incessante trabalho de investigação que coloca sob suspeita os discursos da Filosofia e das Ciências Humanas, da Literatura e da História, da Fenomenologia e da Psicanálise, ao questionar, inclusive, o próprio conceito clássico de ciência.
A Desconstrução é comumente compreendida como um pensamento teórico que pretende dar um novo olhar às correntes hierárquicas sustentadoras do pensamento, tais como, dentro/fora; corpo/mente; fala/escrita; presença/ausência; natureza/cultura; forma/sentido. Derrida afirma que: “desconstruir a oposição significa, primeiramente, em um momento dado, inverter a hierarquia” ( Campos apude DERRIDA, p.48, 2001).
            Desconstruir algo é mostrar que ele não é natural e nem inevitável mas uma construção e mostrar que ela é uma construção num trabalho de desconstrução que busca desorganizá-la e reinscrevê-la, isto é, não destruí-la mas dar-lhe uma nova estrutura e funcionamentos diferentes.
Ao estudar a desconstrução, Jacques Derrida proporcionou significativos abalos no interior das Ciências Humanas e, por conseguinte, no interior dos discursos sobre a Literatura, ao promover a decomposição e a re-configuração desses mesmos discursos, de dentro e de fora, detonando, assim, a tranquilidade de como eram feitos os discursos. Assim, podemos aprender com Derrida, a "re-colocar, a cada vez, tudo em jogo, de acabar para recomeçar, de acabar por recomeçar. Não no sentido de esquecer o já sabido, de reinventar o mesmo, mas de se colocar a tarefa de redefinir as tonalidades do acontecimento" (Campos apude SISCAR, p.141, 2005)
Mas a desconstrução não é exclusivamente filosófica. Para além da Filosofia, podemos observar que a desconstrução apresenta-se como uma prática de leitura crítica, seja essa leitura de textos filosóficos, seja de textos literários podendo se expandir para a moda, o design, arquitetura e tantos outros campos do saber.


A desconstrução na Moda

Até meados da década de 80, a roupa era feita com todo o glamour, os estilistas sempre buscavam formas para o aperfeiçoamento de um bom acabamento, além de novas técnicas para que a roupa pudesse ser impecável e caísse como uma pluma no corpo das pessoas. No entanto, na década de 80, alguns estilistas japoneses passaram a produzir peças que não tinham mais todo o requinte exigido pelas pessoas, eles passaram a criar roupas não convencionais, estranhas aos olhos da maioria que as viam, desestruturadas, amassadas e até mesmo rasgadas. Há as peças em que as mangas foram transformadas em golas, bainhas deixaram de existir em algumas roupas ou começaram a ser feitas sem os detalhes de dobra, ficando até mesmo em overloques e mostrando os desfiados do tecido. Como também, a linha base da roupa que é perpendicular ao chão, foi deslocada.
A desconstrução de moda veio para colocar um pouco de polêmica no mundo na moda. Esse estilo traz um novo conceito. O conceito de que uma peça pode ter várias outras funções e gerar outras formas cujos nossos cérebros não estão acostumados a ver. Quem já pensou em ter uma saia feita de mangas ou um macacão feito por uma camisa ao contrário? É um tema que induz as pessoas a pensarem no que estão vestindo e a sair um pouco dessa tendência de todos vestirem o que está na moda.
Para complementar esse assunto, nada melhor que pegar como exemplo um dos maiores nomes desse gênero, Yohji Yamamoto, que desde a década de 80 já trabalha de forma expressiva e dramática suas criações. Um autêntico alfaiate, assim chamado porque não gosta do termo estilista, anti-moda.  Suas obras não seguem tendências e critica a rapidez no ciclo de vida de uma roupa, preferindo criar roupas atemporais. Além de todo esse feitio, as roupas de Yamamoto despertam um fascínio pela técnica de construção, pelo seu jeito discreto e sombrio de ser. Seus desfiles são conceituais, e em suas modelagens que são bastante desconstruídas tenta retratar seu cotidiano não estando interessado na moda, em geral e sim interessado em como cortar roupas. Outro estilista que se destaca pela modelagem desconstruída é Rei Kawakubo, mais conhecida como a arquiteta do vestido. Tendo todo seu processo de produção bastante conceitual. 

Desconstruir é pegar ao pé da letra, ter uma peça com inúmeras possibilidades de feitios e funções. É pegar uma blusa, desconstruí-la e criar outras inúmeras blusas, calças saias e até mesmo peças que não são roupas, como por exemplo, bolsas e acessórios. E olhar uma roupa pensando em outras conexões.





Referências bibliográficas:
Jacques Derrida e a Desconstrução: uma introdução - Neurivaldo Campos Pedroso Junior - Revista Encontros de Vista - quinta edição

BERWIAN,  Fernanda. MORELLI, Graziella, Projeto de desenvolvimento de coleção de vestidos a partir da desconstrução da camisa. Disponível em:  http://siaibib01.univali.br/pdf/Fernanda%20Berwian.pdf  Último acesso em: 18/06/2012 ás 16:30h