segunda-feira, 18 de junho de 2012

MODA/INDUMENTÁRIA JUVENIL URBANA: SIMBOLOS DE COMUNICAÇÃO E FORMAÇÃO DE IDENTIDADES CORPORAIS

Por: Iara Viana e Laís Macedo



No presente trabalho buscou-se investigar alguns elementos constitutivos da comunicação da indumentária a partir de uma análise da moda que está especialmente nas ruas, não só com o perfil atraente e sedutor, mas também como forma de comunicação de estratégias de poder e a ideologia busca-se analisar como esse perfil e sua veiculação por meio de revistas de moda ostentam um discurso, que se consolida como contribuição importante para o desenvolvimento da identidade social contemporânea.
É possível afirmar que a moda e indumentária de rua fornecem elementos acerca da relação existente entre expressão, linguagem e comunicação. Esses itens da moda e indumentária, na sociedade contemporânea apresentam-se como produtos fetichizados entre os fabricados e consumidos pela sociedade capitalista.

Palavras chave: Indumentária – jovens – comunicação – moda contemporânea

A moda diz respeito a um universo múltiplo de fenômenos- matérias primas, processos produtivos, custos de fabricação estabilidade cultural e hierarquia social. Essa observação implica o reconhecimento da complexibilidade da temática ciente de que qualquer abordagem totalitária torna um assunto simplista
Vários autores vêm se dedicando a tratar do tema da sociedade contemporânea de forma diferenciada. Dentre eles Mafessoli (2000), Os Tempos das Tribos auxilia na compreensão de que a sociabilidade da juventude passa pela convivência deles com o ambiente urbano. Esse ambiente teria a função de criar um corpo coletivo e de modelar um ethos, que se estabelece entre a ética e a estética, ou seja, as expressões formais que se vinculam aos valores coletivos. Nos centros urbanos as diferenças culturais tornam-se mais visíveis. Os grupos de identidades se auto-rotulam “trups”, “gangues” e “tribos”, etc., e esta identidade se torna explícita visualmente. Dessa forma, pode-se ver nesse visual o diferencial que demarca o espaço de cada tribo no cenário da cidade.
Já segundo o sociólogo Georg Simmel ( Sociologie et Épistemologie, Paris,1981, p.116.), afirma que “a moda no trajar, na ideologia ou no linguajar, etc, traduz essa inflação do sentimento suscitado pela atmosfera ambiente”. O fenômeno da moda surge para singularizar a relação de sentimento induzido em um lugar. Simmel vê isso como fenômeno sociológico dos mais instrutivos. O individuo se sente conduzido pelo ambiente palpitante das massas como que por uma força exterior, indiferente ao seu ser ou a sua vontade. Desta maneira podemos dizer que o indivíduo em geral é impulsionado a fazer como os outros.
Para o filósofo Gilles Lipovetsky (2008), a sociedade moderna opera uma reviravolta inaudita que a separa radicalmente da sociedade dos séculos passados. O autor destaca que não é mais imposta uma coerção de disciplinas. A socialização constitui pela escolha de imagem. Uma paixão direcionada para comunicação publicitária e não pela ideologia, o que prevalece é o jogo da sedução do consumo e do psicologismo. Pode-se caracterizar empiricamente a sociedade contemporânea, como a sociedade de consumo, por diferentes traços: elevação do nível de vida, abundância das mercadorias e dos serviços, culto aos objetos e dos lazeres, moral hedonistas e materialista, etc. A sociedade contemporânea centrada na expansão das necessidades é, antes de tudo aquela que reordena a produção de consumo de massa sob a lei da obsolescência, de sedução e da diversificação, aquela que faz passar o econômico para a órbita da forma da moda. A forma moda a que manifesta em toda sua radicalidade, na cadência acelerada das mudanças de produtos na instabilidade e precariedade das coisas materiais. A lógica econômica é a regra do efêmero que governa a produção e o consumo dos objetos, ela pôs fim ao ideal da permanência. O consumo maciçamente deixou de ser uma lógica de tributo estatutário, passando para a ordem do utilitarismo e do privatismo individualista. “A pretensão social não está mais em jogo, mas sim a sede de imagens e de espetáculos, o gosto pela autonomia, o culto do corpo, a embriaguez das sensações e do novo.” (LIPOVESTSKY, 2008, p.173).
Como estamos no reino das imagens heterogêneas, poliformas, saindo do primado da lógica das classes, é a era das motivações íntimas e existenciais, da gratificação psicológica, do prazer para si mesmo, da qualidade e da utilidade das coisas a qual assume o seu posto. Nesse movimento da modernidade social, podemos observar o extraordinário processo de emancipação privada dos indivíduos, livres paras as suas realizações pessoais, seus ideais, suas relações sexuais, familiares, de realizar e gozar a sua existência.
O código do novo nas sociedades contemporâneas é particularmente inseparável do avanço da equalização das condições e da reivindicação individualista. Quanto mais os indivíduos se mantém a parte e são absolvidos por si próprios, mais há gostos e abertura para as novidades. Esse valor do novo caminha paralelamente ao apelo da personalidade da autonomia privada. (LIPOVETSKY, 2008, p.182).
Compreende-se que o atrativo do novo dá sentido de liberdade pessoal como experiência vivida, uma aventura do eu, uma aspiração da autonomia individual.
Na visão de Lipovetsky, a publicidade amplia seu raio de alcance constantemente, invade todos os espaços, não tem fronteiras. Ela, está presente nas televisões estatais, colóquios, manifestações artísticas e esportivas, imprensa, filmes, artigos de todos os gêneros, das t-shits às velas de windsurfe, os nomes das marcas são exibidos em toda parte do nosso cotidiano. Na era da publicidade criativa, a festa é espetacular: os produtos devem se tornar estrelas, e transformá-los em seres vivos, criar marcas e pessoas com estilo e um caráter. A sedução publicitária investe no lucro personalizado, humaniza a marca, dá-lhe uma alma e a psicologiza.  É a apoteose da sedução.
A publicidade é típica do processo de dominação burocrática moderna. Pois os criadores especializados criam as mensagens persuasivas ligadas ao lógico burocrático próprio das sociedades modernas, usando métodos suaves. Tratam-se como instituições disciplinares, de guiar de fora os comportamentos, penetrando na sociedade até nos seus últimos recôncavos.  Os efeitos da mídia são epidérmicos, a publicidade com a sua força e o seu poder são efêmeros da moda, na verdade ela não impede o indivíduo de refletir e buscar a verdade. Ela pode, no máximo, retardar ou ampliar por um tempo curto o reconhecimento público do verdadeiro trabalho intelectual em execução. A força da mídia apresenta-se como uma das características marcantes do mundo contemporâneo, sua capacidade de oferecer um universo de mudança de ares, de lazer, de esquecimento e de sonho.  A cultura mass-midiática cresce no campo ilimitado de projeções e identificações, encoraja as atitudes passivas, desestimulando as atividades militantes, ampliando a esfera de despossessão subjetiva, e agindo como instrumento de integração ao sistema capitalista.
Enfim, ”vivemos nos programas curtos, na mudança perpétua de normas, na estimulação de viver imediatamente: o presente erigiu-se em eixo maior da duração social. ( LIPOVETSKY, 2008, p.265).
A moda e indumentária são considerados fenômenos culturais, no sentido de que a cultura pode ser entendida como um sistema de significados. Malcolm Barnard, na sua obra Moda e Comunicação, contribuiu para a análise da moda e da indumentária abordando-a no sentido  sócio-antroplógico comunicacional. São formas pelas quais, as experiências, os valores e as crenças de uma sociedade se comunicam através de atividades, artefatos e instituições. (BARNARD, 2003, p,49).
Quando Umberto Eco (apud BARNARD, Malcolm, 2003, p.50) declara que falamos através de nossas roupas quer dizer com isto, que estamos usando roupas para fazer a mesma função de coisas que a palavra escrita ou uma frase faz. Para Barnard esta é uma visão mecanicista da linguagem do significado, a qual encaminha a explicação mecanicista dos significados em moda e indumentária. Os significados dos trajes parecem preexistirem quando estão sendo selecionados e combinados para formarem um conjunto. É como as peças de roupa possuíssem significados nos quais o usuário faz a combinação para formar um conjunto
Seguindo a tradição semiológica Barthesiana, e das contribuições dos sociólogos de Simmel, Veblen e outros, Barnard defende o argumento de que a moda é comunicação, destacando como são gerados e comunicados os significados, e como a partir deles são estabelecidos relações de poder e mecanismos ideológicos, pelos quais se constroem e formam identidades de gênero e de classes. Barnard propõe a pensar em comunicação com algo que torna o individuo membro de uma comunidade e pode-se interpretar comunicação como interação social através de mensagens. Assim a moda e a indumentária  seriam entendidas como elementos usados para dar sentido ao mundo  e às coisas e pessoas que dele fazem parte.
Ressalta Barnard por intermédio da indumentária o indivíduo interage com a comunidade. Podemos tomar como exemplo os grupos jovens do fim da década de 1980, como os Góticos, Ravers  e Casuals. Neste contexto do modelo semiótico, o significado das roupas resultam da negociação entre os papeis do estilista, do usuário e do espectador da roupa. Não podendo esquecer que esta leitura de significados feita pelo estilista,  ou pelo usuário e também pelo espectador, passa a ser é uma leitura relativa, pois trás  a suas experiências  culturais e suas expectativas para fazer pressão sobre o traje na produção e  na troca de significados.
Percebemos a moda como fenômenos culturais e de comunicação. Considera-se moda e a indumentária no sentido cultural são as formas e as maneiras que  um grupo se constrói e se comunica sua identidade com o próprio membro do  grupo ou outros  grupos. São comunicativas  na medida que constituem modos não verbais pelas quais produzem e trocam significados e valores. A moda e a indumentária como fenômenos culturais e comunicativos está estritamente ligados às questões de poder, de status em termos de ideologia.
O fenômeno moda é aqui abordado em sua confluência com a cultura contemporânea, e com o advento da comunicação, expressão e  representação de suas idéias, dos valores e das formas de vida na moderna urbe.
De acordo com o artigo da antropóloga Valéria Brandini (2007), Vestindo a rua: moda, comunicação & metrópole, a moda contemporânea dos designers de vanguarda ingleses, orientada por referenciais estéticos comportamentais e de estilo derivados da rua, torna-se mais que roupa, tendência ou estilo em voga. Ela torna-se objeto de ação expressiva, de comunicação de mensagem, de transmissão de significados, não apenas referencial de status, mas forma de arte e de comunicação.
Desde a modernidade, a moda como entidade fluida a incorporar e a ser incorporada, está presente nas vitrines da urbe, representando um simulacro, constitui o interesse. É um chamariz de consumo, um jogo de sedução. Queremos vestir o que está na moda, queremos nos vestir como o coletivo e queremos ser únicos e especiais. Na presença da imagem da contemporaneidade, nos gerando uma sensação de obsolescência, de que não alcançamos o presente e estamos impulsionados para o futuro.
Como Valéria Brandini relata, a moda pode ser lida como uma vitrine do mundo moderno. Onde a realidade contemporânea é a base do conceito de criação, além de converter-se em forma de comunicação. Ela permite a expressão da forma como indivíduos e coletividades sentem e se manifestam sobre suas formas de vida. Percebe-se que a pesquisa desenvolvida entre a cultura urbana contemporânea e as criações dos designers ingleses, que são a grande parte desses criadores, inspiram-se na rua, na cultura urbana e na vivência marginal de grupos de estilos que habitam os grandes centros urbanos.
A moda é um fenômeno contemporâneo, pela velocidade dos atuais processos de comunicação, escapa-nos à prisão conceitual. Ressalta Valéria Brandini., cada designer de moda possui a sua maneira peculiar de traduzir, na criação da vestimenta. linguagens e processos comunicacionais do universo empírico da rua, considerando esta uma característica fundamental que transforma a moda contemporânea como objeto de conhecimento antropológico, histórico, social e político.
Através da moda/indumentária podemos compreender o tempo em que vivemos, ter conhecimento de sua história, de sua origem. O espaço percorrido até a chegada do presente.
A imagem é uma característica da sociedade contemporânea. Os jovens de hoje com a sua imagem, cultuam o corpo, uma cópia das imagens que estão representadas nas vitrines, na mídia, nos filmes, na rua  e no outro. O desejo de imitação, da equalização e ao mesmo tempo, ser diferente.
A moda ganhou espaço e foi adotada no cotidiano das pessoas. A partir do instante em que a moda atinge as ruas e entra no guarda roupa, a moda adquire o aspecto da fala. O gosto pessoal passa a prevalecer. É dessa forma que a indumentária contribui como um eficaz meio de comunicação de valores e princípios e desejos.

Referências:
ALMEIDA, Mariia Isabel Mendes  & EUGÊNIO, Fernanda , CULTURAS JOVENS: novos mapas do afeto. Rio de Janeiro: jorge Zahar Editor, 2006.
ALMEIDA, Mariia Isabel Mendes ,TRACY, Kátia Maria de Almeida,Noites Nômades . Rio de Janeiro: Ed. Rocco, 2003.
BARNARD, Malcolm . MODA E COMUNICAÇÃO. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.
BENJAMIM, Walter, PASSAGENS; Ed. UFMG. Belo Horizonte, 2006.
CANCLINI, Néstor García. CULTURAS HÍBRIDAS. São Paulo: Edusp, 2006.
CASTILHO, Kátia. MODA E LINGUAGEM. 2 Ed.. Rev. Reimp. São Paulo; Ed. Anhembi Morumbi, 2004.
CIDREIRA,  Renata Pitombo Cidreira, Os Sentidos da Moda, Editora: Annablume.
LIPOVETSKY, Gilles. O Império do Efêmero. A moda e seu destino nas sociedades modernas. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
MAFFESOLI, Michel. O Tempo das Tribos: O declínio do individualismo nas sociedades de massa. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000.
POLLINI, Denise ,Breve história da Moda,  Editora Claridade, São Paulo, 2007.Revista Capricho - Edições de 04/01/2009 à 07/02/2009. Editora Abril.




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