No presente trabalho buscou-se investigar
alguns elementos constitutivos da comunicação da indumentária a partir de uma
análise da moda que está especialmente nas ruas, não só com o perfil atraente e
sedutor, mas também como forma de comunicação de estratégias de poder e a
ideologia busca-se analisar como esse perfil e sua veiculação por meio de
revistas de moda ostentam um discurso, que se consolida como contribuição
importante para o desenvolvimento da identidade social contemporânea.
É possível afirmar que a moda e indumentária
de rua fornecem elementos acerca da relação existente entre expressão,
linguagem e comunicação. Esses itens da moda e indumentária, na sociedade
contemporânea apresentam-se como produtos fetichizados entre os fabricados e
consumidos pela sociedade capitalista.
Palavras chave: Indumentária
– jovens – comunicação – moda contemporânea
Vários
autores vêm se dedicando a tratar do tema da sociedade contemporânea de forma
diferenciada. Dentre eles Mafessoli (2000), Os Tempos das Tribos auxilia na compreensão de que a
sociabilidade da juventude passa pela convivência deles com o ambiente urbano. Esse
ambiente teria a função de criar um corpo coletivo e de modelar um ethos, que se estabelece entre a ética e
a estética, ou seja, as expressões formais que se vinculam aos valores
coletivos. Nos centros urbanos as diferenças culturais tornam-se mais visíveis.
Os grupos de identidades se auto-rotulam “trups”, “gangues” e “tribos”, etc., e
esta identidade se torna explícita visualmente. Dessa forma, pode-se ver nesse
visual o diferencial que demarca o espaço de cada tribo no cenário da cidade.
Já segundo o sociólogo Georg Simmel (
Sociologie et Épistemologie,
Paris,1981, p.116.), afirma que “a
moda no trajar, na ideologia ou no linguajar, etc, traduz essa inflação do
sentimento suscitado pela atmosfera ambiente”. O fenômeno da moda surge para
singularizar a relação de sentimento induzido em um lugar. Simmel vê isso como
fenômeno sociológico dos mais instrutivos. O individuo se sente conduzido pelo
ambiente palpitante das massas como que por uma força exterior, indiferente ao
seu ser ou a sua vontade. Desta maneira podemos dizer que o indivíduo em geral
é impulsionado a fazer como os outros.
Para o filósofo Gilles Lipovetsky (2008), a
sociedade moderna opera uma reviravolta inaudita que a separa radicalmente da
sociedade dos séculos passados. O autor destaca que não é mais imposta uma
coerção de disciplinas. A socialização constitui pela escolha de imagem. Uma
paixão direcionada para comunicação publicitária e não pela ideologia, o que
prevalece é o jogo da sedução do consumo e do psicologismo. Pode-se
caracterizar empiricamente a sociedade contemporânea, como a sociedade de
consumo, por diferentes traços: elevação do nível de vida, abundância das
mercadorias e dos serviços, culto aos objetos e dos lazeres, moral hedonistas e
materialista, etc. A sociedade contemporânea centrada na expansão das
necessidades é, antes de tudo aquela que reordena a produção de consumo de
massa sob a lei da obsolescência, de sedução e da diversificação, aquela que
faz passar o econômico para a órbita da forma da moda. A forma moda a que manifesta
em toda sua radicalidade, na cadência acelerada das mudanças de produtos na
instabilidade e precariedade das coisas materiais. A lógica econômica é a regra
do efêmero que governa a produção e o consumo dos objetos, ela pôs fim ao ideal
da permanência. O consumo maciçamente deixou de ser uma lógica de tributo
estatutário, passando para a ordem do utilitarismo e do privatismo
individualista. “A pretensão social não está mais em jogo, mas sim a sede de
imagens e de espetáculos, o gosto pela autonomia, o culto do corpo, a
embriaguez das sensações e do novo.” (LIPOVESTSKY, 2008, p.173).
Como
estamos no reino das imagens heterogêneas, poliformas, saindo do primado da
lógica das classes, é a era das motivações íntimas e existenciais, da
gratificação psicológica, do prazer para si mesmo, da qualidade e da utilidade
das coisas a qual assume o seu posto. Nesse movimento da modernidade social,
podemos observar o extraordinário processo de emancipação privada dos
indivíduos, livres paras as suas realizações pessoais, seus ideais, suas
relações sexuais, familiares, de realizar e gozar a sua existência.
O código do
novo nas sociedades contemporâneas é particularmente inseparável do avanço da
equalização das condições e da reivindicação individualista. Quanto mais os
indivíduos se mantém a parte e são absolvidos por si próprios, mais há gostos e
abertura para as novidades. Esse valor do novo caminha paralelamente ao apelo
da personalidade da autonomia privada. (LIPOVETSKY, 2008, p.182).
Compreende-se
que o atrativo do novo dá sentido de liberdade pessoal como experiência vivida,
uma aventura do eu, uma aspiração da autonomia individual.
Na
visão de Lipovetsky, a publicidade amplia seu raio de alcance constantemente,
invade todos os espaços, não tem fronteiras. Ela, está presente nas televisões
estatais, colóquios, manifestações artísticas e esportivas, imprensa, filmes,
artigos de todos os gêneros, das t-shits às velas de windsurfe, os nomes das
marcas são exibidos em toda parte do nosso cotidiano. Na era da publicidade
criativa, a festa é espetacular: os produtos devem se tornar estrelas, e
transformá-los em seres vivos, criar marcas e pessoas com estilo e um caráter.
A sedução publicitária investe no lucro personalizado, humaniza a marca, dá-lhe
uma alma e a psicologiza. É a apoteose
da sedução.
A
publicidade é típica do processo de dominação burocrática moderna. Pois os
criadores especializados criam as mensagens persuasivas ligadas ao lógico
burocrático próprio das sociedades modernas, usando métodos suaves. Tratam-se
como instituições disciplinares, de guiar de fora os comportamentos, penetrando
na sociedade até nos seus últimos recôncavos.
Os efeitos da mídia são epidérmicos, a publicidade com a sua força e o
seu poder são efêmeros da moda, na verdade ela não impede o indivíduo de
refletir e buscar a verdade. Ela pode, no máximo, retardar ou ampliar por um
tempo curto o reconhecimento público do verdadeiro trabalho intelectual em
execução. A força da mídia apresenta-se como uma das características marcantes
do mundo contemporâneo, sua capacidade de oferecer um universo de mudança de
ares, de lazer, de esquecimento e de sonho.
A cultura mass-midiática cresce no campo ilimitado de projeções e
identificações, encoraja as atitudes passivas, desestimulando as atividades
militantes, ampliando a esfera de despossessão subjetiva, e agindo como
instrumento de integração ao sistema capitalista.
Enfim,
”vivemos nos programas curtos, na mudança perpétua de normas, na estimulação de
viver imediatamente: o presente erigiu-se em eixo maior da duração social. (
LIPOVETSKY, 2008, p.265).
A
moda e indumentária são considerados fenômenos culturais, no sentido de que a
cultura pode ser entendida como um sistema de significados. Malcolm Barnard, na
sua obra Moda e Comunicação, contribuiu
para a análise da moda e da indumentária abordando-a no sentido sócio-antroplógico comunicacional. São formas
pelas quais, as experiências, os valores e as crenças de uma sociedade se
comunicam através de atividades, artefatos e instituições. (BARNARD, 2003,
p,49).
Quando
Umberto Eco (apud BARNARD, Malcolm, 2003, p.50) declara
que falamos através de nossas roupas quer dizer com isto, que estamos usando
roupas para fazer a mesma função de coisas que a palavra escrita ou uma frase
faz. Para Barnard esta é uma visão mecanicista da linguagem do significado, a
qual encaminha a explicação mecanicista dos significados em moda e
indumentária. Os significados dos trajes parecem preexistirem quando estão
sendo selecionados e combinados para formarem um conjunto. É como as peças de
roupa possuíssem significados nos quais o usuário faz a combinação para formar
um conjunto
Seguindo
a tradição semiológica Barthesiana, e das contribuições dos sociólogos de
Simmel, Veblen e outros, Barnard defende o argumento de que a moda é
comunicação, destacando como são gerados e comunicados os significados, e como
a partir deles são estabelecidos relações de poder e mecanismos ideológicos,
pelos quais se constroem e formam identidades de gênero e de classes. Barnard
propõe a pensar em comunicação com algo que torna o individuo membro de uma
comunidade e pode-se interpretar comunicação como interação social através de
mensagens. Assim a moda e a indumentária
seriam entendidas como elementos usados para dar sentido ao mundo e às coisas e pessoas que dele fazem parte.
Ressalta
Barnard por intermédio da indumentária o indivíduo interage com a comunidade.
Podemos tomar como exemplo os grupos jovens do fim da década de 1980, como os Góticos, Ravers e Casuals. Neste contexto do modelo semiótico,
o significado das roupas resultam da negociação entre os papeis do estilista,
do usuário e do espectador da roupa. Não podendo esquecer que esta leitura de
significados feita pelo estilista, ou
pelo usuário e também pelo espectador, passa a ser é uma leitura relativa, pois
trás a suas experiências culturais e suas expectativas para fazer
pressão sobre o traje na produção e na
troca de significados.
Percebemos
a moda como fenômenos culturais e de comunicação. Considera-se moda e a
indumentária no sentido cultural são as formas e as maneiras que um grupo se constrói e se comunica sua
identidade com o próprio membro do grupo
ou outros grupos. São comunicativas na medida que constituem modos não verbais
pelas quais produzem e trocam significados e valores. A moda e a indumentária
como fenômenos culturais e comunicativos está estritamente ligados às questões
de poder, de status em termos de ideologia.
O
fenômeno moda é aqui abordado em sua confluência com a cultura contemporânea, e
com o advento da comunicação, expressão e representação de suas idéias, dos valores e das
formas de vida na moderna urbe.
De
acordo com o artigo da antropóloga Valéria Brandini (2007), Vestindo a rua: moda, comunicação &
metrópole, a moda contemporânea dos designers de vanguarda ingleses,
orientada por referenciais estéticos comportamentais e de estilo derivados da
rua, torna-se mais que roupa, tendência ou estilo em voga. Ela torna-se objeto
de ação expressiva, de comunicação de mensagem, de transmissão de significados,
não apenas referencial de status, mas forma de arte e de comunicação.
Desde
a modernidade, a moda como entidade fluida a incorporar e a ser incorporada,
está presente nas vitrines da urbe, representando um simulacro, constitui o
interesse. É um chamariz de consumo, um jogo de sedução. Queremos vestir o que
está na moda, queremos nos vestir como o coletivo e queremos ser únicos e
especiais. Na presença da imagem da contemporaneidade, nos gerando uma sensação
de obsolescência, de que não alcançamos o presente e estamos impulsionados para
o futuro.
Como
Valéria Brandini relata, a moda pode ser lida como uma vitrine do mundo moderno.
Onde a realidade contemporânea é a base do conceito de criação, além de
converter-se em forma de comunicação. Ela permite a expressão da forma como
indivíduos e coletividades sentem e se manifestam sobre suas formas de vida. Percebe-se
que a pesquisa desenvolvida entre a cultura urbana contemporânea e as criações
dos designers ingleses, que são a grande parte desses criadores, inspiram-se na
rua, na cultura urbana e na vivência marginal de grupos de estilos que habitam
os grandes centros urbanos.
A
moda é um fenômeno contemporâneo, pela velocidade dos atuais processos de
comunicação, escapa-nos à prisão conceitual. Ressalta Valéria Brandini., cada
designer de moda possui a sua maneira peculiar de traduzir, na criação da
vestimenta. linguagens e processos comunicacionais do universo empírico da rua,
considerando esta uma característica fundamental que transforma a moda
contemporânea como objeto de conhecimento antropológico, histórico, social e
político.
Através
da moda/indumentária podemos compreender o tempo em que vivemos, ter
conhecimento de sua história, de sua origem. O espaço percorrido até a chegada
do presente.
A
imagem é uma característica da sociedade contemporânea. Os jovens de hoje com a
sua imagem, cultuam o corpo, uma cópia das imagens que estão representadas nas
vitrines, na mídia, nos filmes, na rua e
no outro. O desejo de imitação, da equalização e ao mesmo tempo, ser diferente.
A
moda ganhou espaço e foi adotada no cotidiano das pessoas. A partir do instante
em que a moda atinge as ruas e entra no guarda roupa, a moda adquire o aspecto
da fala. O gosto pessoal passa a prevalecer. É dessa forma que a indumentária
contribui como um eficaz meio de comunicação de valores e princípios e desejos.
Referências:
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Rio de Janeiro: jorge Zahar Editor, 2006.
ALMEIDA, Mariia Isabel Mendes
,TRACY, Kátia Maria de Almeida,Noites
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BARNARD, Malcolm . MODA E COMUNICAÇÃO. Rio de Janeiro:
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BENJAMIM,
Walter, PASSAGENS; Ed. UFMG. Belo
Horizonte, 2006.
CANCLINI, Néstor García. CULTURAS HÍBRIDAS. São Paulo: Edusp, 2006.
CASTILHO, Kátia. MODA E
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CIDREIRA, Renata Pitombo Cidreira, Os Sentidos da
Moda, Editora: Annablume.
LIPOVETSKY, Gilles. O Império do Efêmero. A moda e seu destino nas sociedades
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MAFFESOLI, Michel. O
Tempo das Tribos: O declínio do individualismo nas sociedades de
massa. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000.
POLLINI,
Denise ,Breve história da Moda, Editora Claridade, São Paulo, 2007.Revista Capricho - Edições de 04/01/2009
à 07/02/2009. Editora Abril.
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