Por Amanda Botrel, Tabata Azevedo e Giulianna Oliveira
A moda artesanal
Resumo: O texto experimental a seguir fala sobre a moda
artesanal e sua crescente presença nas passarelas e nas ruas, a expansão do
mercado desse ramo da moda e como se dá o feitio das peças.
Palavras-chave: Moda artesanal, artesanato, arte, moda
arte.
A moda artesanal, também chamada de moda arte, não é
executada pelo processo industrial, mas sim pelo cuidado meticuloso de
artesãos. Na ultima década, as peças
artesanais, vem sendo muito utilizadas pelos estilistas em suas coleções, ganhando
grande espaço e valorização no mercado.
“Historicamente, o artesanato é uma
tradição, uma linhagem de conhecimento que vai passando de pai para filho, de
mestre para discípulo. Na opinião da tecelã Gilda Joppert, o artesão é uma
espécie de ecologista da cultura, porque preserva conhecimento dos materiais e
das técnicas.” (FARJADO, Elias, 2002, p 07)
A peça de roupa ou algum acessório feito artesanalmente é
essencialmente o trabalho manual de um artesão. Mas com a mecanização da
indústria, a peça artesanal passou a ser identificada também como aquela que
pertence à cultura popular.
“Qualquer objeto, até o mais
corriqueiro, encerra uma certa engenhosidade, escolhas, uma cultura. Cada
objeto traz consigo um saber especifico e um certo excedente de sentido, o que
se pode constar no modo pelo qual se toma posse dele, no qual intervêm moral,
princípios distintivos, escolhas pessoais, pelo modo que se faz uso dele, no
qual se revelam um ensinamento e uma moral do compromisso, estabelecido por
normas precisas de boas maneiras, pelo modo, enfim, de conservá-lo.” (D.
ROCHE, Apud. SORCINELLI, 2008, p. 49)
Considera-se uma legítima roupa artesanal, todo trabalho
manual, onde mais de 80% da peça foi fruto da transformação de matéria-prima
pelo próprio artesão. Além disso, esse produto normalmente reflete a relação
desse artesão com o meio onde ele vive e sua cultura.
“A arte evidencia-se no artesanato como
forma de expressão do gênio criador do homem e de sua ordem estética, pois
permite, sumariamente, a materialização da subjetividade do artesão através da
replicação de objetos, que se diferenciam uns dos outros por pequenos detalhes
na forma de criar, copiar e manusear a matéria-prima. O artesanato, ainda hoje
tem como fonte de inspiração as crenças religiões tradições, modos de vida e
valor, e promove a representação da realidade cotidiana através da produção e
seriação de utilitários como vestimentas, adereços, mobiliários, peças
decorativas e funcionais.” (ADAN (1947) apud MARINHO, 2007, p. 04)
A roupa artesanal pode ser
feita com ou sem ajuda de ferramentas e mecanismos caseiros, que as pessoas
dão às matérias brutas, material de
descarte e sobras do consumo industrial, visando produzir peças utilitárias,
artísticas e recreativas, com ou sem fim comercial.
“O estilista mineiro Ronaldo Fraga
encontrou no artesanato o ponto de equilíbrio dessa equação. Ele trabalha com
comunidades de artesãos para introduzir em suas roupas e acessórios elementos
genuínos da cultura popular. “É um trabalho que me realiza. Além de contribuir
para a afirmação da cultura local das comunidades com as quais trabalho, também
é importante na geração de renda.” (SEBRAE, 2008, P. 35)
Na concepção do escritor mexicano Otavio Paz, Premio
Nobel de Literatura, falar de uma peça artesanal – generalizando todas elas,
não só as da moda – falar de artesanato é falar mais de pessoas do que de
objetos, pois no produto resultante do trabalho artesanal é um produto “com
alma”, onde estão presentes no saber, arte, a criatividade e a habilidade.
“O artista tem uma técnica, um estilo,
hábitos pessoais e uma personalidade própria, que, por mais elegantes ou
interessantes que sejam são, no entanto, previsíveis. No entanto, quando
artista tem que combinar uma configuração exterior a ele com a configuração que
traz no interior, o casamentos das duas configurações resulta em algo nunca
visto, mas que é apesar disso, um prolongamento da sua natureza original. O
cruzamento ou casamento de duas configurações se torna uma terceira
configuração, que tem vida própria.” (NACHMANOVITVHM, 1993, p.80)
A moda artesanal que nos é apresentada tem forte
influencia do movimento Hippie, o
qual nasceu na Califórnia, na década de 60, impulsionado por músicos e artistas
em geral. A característica básica dessa moda foi o uso da cor, Introduziram o
estilo unissex e seu gosto pelo colorido estava associado à cultura
psicodélica. As roupas eram em geral estampadas e faziam alusão aos símbolos do
movimento: paz e amor, além de flores e motivos orientais. Os sapato s e bolsas
tinham aspectos artesanais, próprios de culturas não industrializadas. Houve
grande valorização de adornos de origem folclórica.
O movimento Hippie iniciou
uma revolução que pregava o questionamento não so da sociedade capitalista como
também a sociedade industrial. Para eles a sociedade de consumo deveria morrer
de forma violenta. A sociedade da alienação deveria desaparecer da historia,
Dessa forma entendemos a participação dos Hippies
no mundo da moda artesanal.
Nas ultima décadas vemos que é notável o crescimento da
moda artesanal nos grandes desfiles do mundo. Um exemplo é a grife Parisiense
Mayet, que na Semana de Moda de Paris de 2012, em seu segundo desfile
apresentou sua coleção, que teve grande destaque para a forma em que foi
produzida, a missão dessa grife é achar artesãos de vários locais do mundo,
principalmente em países que precisam de incentivos econômicos como: Quênia,
Colômbia, África do Sul, Índia e Mongólia. A coleção trouxe tecidos orgânicos e
estampas feitas manualmente.
“Quando
você aplica o trabalho artesanal nas coleções prêt-à-porter, as peças se
transformam em itens de alta-costura. Afinal, alta-costura é artesanato.” Afirma Carlos Miele que é um
notável estilista da moda brasileira e com grande renome internacional. Miele
passou a destacar em suas coleções a importância do artesanato, chamando
atenção para o impacto dos trabalhos manuais no fashion business.
As relações que se estabelecem entre a moda e o
artesanato se expressam de varias formas: o artesanato buscando alguns
conceitos presentes na moda. Portanto a junção entre o mercado e elementos
culturais fortalece o produto, valorizando o papel do artesão enquanto criador
e artista que mantem as raízes culturais quando se apropria de elementos
pertencentes a uma cultura, seja o artesanato, a música, ou a dança.
Bibliografia:
CALANCA, Daniela. História social da Moda. São Paulo:
SENAC, 2008.
CANCLINI, Nestor Garcia. As Culturas Populares no
Capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 1983.
ERNER, Guillaume. Vitimas da moda: como a criamos, por
que a seguimos. São Paulo: Senac, 2005.
FARJADO, Elias; COLAGE, Eloi; JOPPERT, Gilda. Fios e
Fibras: oficina de artesanato. Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: SENAC, 2002.
MARINHO, Heliana. Artesanato: tendências do segmento e
oportunidades de negócios. SEBRAE, Rio de Janeiro, 2007. Acessado em:
02/06/2012
Disponível em:
http://www.biblioteca.sebrae.com.br/bds/bds.nsf/subarea2?OpenForm&AutoFramed&jmm=ARTESANATO
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MAY, Rollo. A Coragem de Criar, 15° Ed. Rio de Janeiro,
Nova Fronteira, 1975.
NACHMANOVITCH, Stephen. Ser Criativo: o poder da improvisação
na vida e na arte, 3°ed, São Paulo, Summus, 1993.
SEBRAE. “Artesanato na moda” In: Artesanato: Um Negocio
Genuinamente Brasileiro (edição Comemorativa 10 anos). V.1, n.1, mar. 2008.
SORCINELLI, Paolo. Estudar a moda: corpos, vestuário, estratégias.
São Paulo: Senac. 2008.
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