terça-feira, 12 de junho de 2012

Moda Artesanal

Por Amanda Botrel, Tabata Azevedo e Giulianna Oliveira


A moda artesanal

Resumo: O texto experimental a seguir fala sobre a moda artesanal e sua crescente presença nas passarelas e nas ruas, a expansão do mercado desse ramo da moda e como se dá o feitio das peças.

Palavras-chave: Moda artesanal, artesanato, arte, moda arte.

A moda artesanal, também chamada de moda arte, não é executada pelo processo industrial, mas sim pelo cuidado meticuloso de artesãos.  Na ultima década, as peças artesanais, vem sendo muito utilizadas pelos estilistas em suas coleções, ganhando grande espaço e valorização no mercado.

            “Historicamente, o artesanato é uma tradição, uma linhagem de conhecimento que vai passando de pai para filho, de mestre para discípulo. Na opinião da tecelã Gilda Joppert, o artesão é uma espécie de ecologista da cultura, porque preserva conhecimento dos materiais e das técnicas.” (FARJADO, Elias, 2002, p 07)

A peça de roupa ou algum acessório feito artesanalmente é essencialmente o trabalho manual de um artesão. Mas com a mecanização da indústria, a peça artesanal passou a ser identificada também como aquela que pertence à cultura popular.

            “Qualquer objeto, até o mais corriqueiro, encerra uma certa engenhosidade, escolhas, uma cultura. Cada objeto traz consigo um saber especifico e um certo excedente de sentido, o que se pode constar no modo pelo qual se toma posse dele, no qual intervêm moral, princípios distintivos, escolhas pessoais, pelo modo que se faz uso dele, no qual se revelam um ensinamento e uma moral do compromisso, estabelecido por normas precisas de boas maneiras, pelo modo, enfim, de conservá-lo.” (D. ROCHE, Apud. SORCINELLI, 2008, p. 49)

Considera-se uma legítima roupa artesanal, todo trabalho manual, onde mais de 80% da peça foi fruto da transformação de matéria-prima pelo próprio artesão. Além disso, esse produto normalmente reflete a relação desse artesão com o meio onde ele vive e sua cultura.

“A arte evidencia-se no artesanato como forma de expressão do gênio criador do homem e de sua ordem estética, pois permite, sumariamente, a materialização da subjetividade do artesão através da replicação de objetos, que se diferenciam uns dos outros por pequenos detalhes na forma de criar, copiar e manusear a matéria-prima. O artesanato, ainda hoje tem como fonte de inspiração as crenças religiões tradições, modos de vida e valor, e promove a representação da realidade cotidiana através da produção e seriação de utilitários como vestimentas, adereços, mobiliários, peças decorativas e funcionais.” (ADAN (1947) apud MARINHO, 2007, p. 04)

A roupa artesanal pode ser feita com ou sem ajuda de ferramentas e mecanismos caseiros, que as pessoas dão  às matérias brutas, material de descarte e sobras do consumo industrial, visando produzir peças utilitárias, artísticas e recreativas, com ou sem fim comercial.

“O estilista mineiro Ronaldo Fraga encontrou no artesanato o ponto de equilíbrio dessa equação. Ele trabalha com comunidades de artesãos para introduzir em suas roupas e acessórios elementos genuínos da cultura popular. “É um trabalho que me realiza. Além de contribuir para a afirmação da cultura local das comunidades com as quais trabalho, também é importante na geração de renda.” (SEBRAE, 2008, P. 35)

Na concepção do escritor mexicano Otavio Paz, Premio Nobel de Literatura, falar de uma peça artesanal – generalizando todas elas, não só as da moda – falar de artesanato é falar mais de pessoas do que de objetos, pois no produto resultante do trabalho artesanal é um produto “com alma”, onde estão presentes no saber, arte, a criatividade e a habilidade.

“O artista tem uma técnica, um estilo, hábitos pessoais e uma personalidade própria, que, por mais elegantes ou interessantes que sejam são, no entanto, previsíveis. No entanto, quando artista tem que combinar uma configuração exterior a ele com a configuração que traz no interior, o casamentos das duas configurações resulta em algo nunca visto, mas que é apesar disso, um prolongamento da sua natureza original. O cruzamento ou casamento de duas configurações se torna uma terceira configuração, que tem vida própria.” (NACHMANOVITVHM, 1993, p.80)

A moda artesanal que nos é apresentada tem forte influencia do movimento Hippie, o qual nasceu na Califórnia, na década de 60, impulsionado por músicos e artistas em geral. A característica básica dessa moda foi o uso da cor, Introduziram o estilo unissex e seu gosto pelo colorido estava associado à cultura psicodélica. As roupas eram em geral estampadas e faziam alusão aos símbolos do movimento: paz e amor, além de flores e motivos orientais. Os sapato s e bolsas tinham aspectos artesanais, próprios de culturas não industrializadas. Houve grande valorização de adornos de origem folclórica.

O movimento Hippie iniciou uma revolução que pregava o questionamento não so da sociedade capitalista como também a sociedade industrial. Para eles a sociedade de consumo deveria morrer de forma violenta. A sociedade da alienação deveria desaparecer da historia, Dessa forma entendemos a participação dos Hippies no mundo da moda artesanal.

Nas ultima décadas vemos que é notável o crescimento da moda artesanal nos grandes desfiles do mundo. Um exemplo é a grife Parisiense Mayet, que na Semana de Moda de Paris de 2012, em seu segundo desfile apresentou sua coleção, que teve grande destaque para a forma em que foi produzida, a missão dessa grife é achar artesãos de vários locais do mundo, principalmente em países que precisam de incentivos econômicos como: Quênia, Colômbia, África do Sul, Índia e Mongólia. A coleção trouxe tecidos orgânicos e estampas feitas manualmente.

            “Quando você aplica o trabalho artesanal nas coleções prêt-à-porter, as peças se transformam em itens de alta-costura. Afinal, alta-costura é artesanato.” Afirma Carlos Miele que é um notável estilista da moda brasileira e com grande renome internacional. Miele passou a destacar em suas coleções a importância do artesanato, chamando atenção para o impacto dos trabalhos manuais no fashion business.

As relações que se estabelecem entre a moda e o artesanato se expressam de varias formas: o artesanato buscando alguns conceitos presentes na moda. Portanto a junção entre o mercado e elementos culturais fortalece o produto, valorizando o papel do artesão enquanto criador e artista que mantem as raízes culturais quando se apropria de elementos pertencentes a uma cultura, seja o artesanato, a música, ou a dança.


Bibliografia:

CALANCA, Daniela. História social da Moda. São Paulo: SENAC, 2008.
CANCLINI, Nestor Garcia. As Culturas Populares no Capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 1983.
ERNER, Guillaume. Vitimas da moda: como a criamos, por que a seguimos. São Paulo: Senac, 2005.
FARJADO, Elias; COLAGE, Eloi; JOPPERT, Gilda. Fios e Fibras: oficina de artesanato. Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: SENAC, 2002.
MARINHO, Heliana. Artesanato: tendências do segmento e oportunidades de negócios. SEBRAE, Rio de Janeiro, 2007. Acessado em: 02/06/2012
Disponível em:
http://www.biblioteca.sebrae.com.br/bds/bds.nsf/subarea2?OpenForm&AutoFramed&jmm=ARTESANATO
MAY, Rollo. A Coragem de Criar, 15° Ed. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1975.
NACHMANOVITCH, Stephen. Ser Criativo: o poder da improvisação na vida e na arte, 3°ed, São Paulo, Summus, 1993.
SEBRAE. “Artesanato na moda” In: Artesanato: Um Negocio Genuinamente Brasileiro (edição Comemorativa 10 anos). V.1, n.1, mar. 2008.
SORCINELLI, Paolo. Estudar a moda: corpos, vestuário, estratégias. São Paulo: Senac. 2008.

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