quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

A influência da Guerra sobre a Moda

Por Luana Cordeiro e Iza Lopes
Resumo:
A  II Guerra teve vários desfechos, entre eles a alforria da mulher no âmbito social, familiar e na moda. Tranformações foram sofridas de todos os lados, em todos os lugares e para todos os sexos, mas algumas das mais notáveis dizem respeito às mulheres que lutaram, transformaram e reinventaram um novo modo de viver.
Palavras-chave: Moda, Guerra, comportamento, Chanel

A II Guerra Mundial foi um conflito militar global que durou de 1939 a 1945, envolvendo muitas nações do mundo – incluindo todas as grandes potências. O conflito aconteceu na Europa, Oceanos Atlântico e Pacífico, África,  Oriente Médio, e sudeste asiático. Foi a guerra mais abrangente da história e o conflito mais letal da história da humanidade, com mais de setenta milhões de mortos. A guerra terminou com a vitória dos Aliados em 1945, alterando significativamente o alinhamento político e a estrutura social mundial.  
A economia mundial sofreu muito, embora os participantes da Segunda Guerra Mundial tenham sido afetados de forma diferente. A guerra transformou vidas, lugares, o mundo. Conseqüentemente influenciou também a moda. Esta reflete sua época, os acontecimentos de um tempo. A Guerra tomou a atenção do mundo, e como tudo girava ao seu redor, não seria diferente com a moda. Até mesmo o que poderia ser denominado como “anti-moda” virou tendência. A escassez de tecidos e pigmentos para tinturaria traria para a moda um ar sombrio e a sensação de uniformidade da população. As cores escuras predominavam e os tecidos pesados de alta resistência foram introduzidos no universo feminino, visando à durabilidade e até mesmo segurança.
Como disse Dominique Veillon, “a Guerra colocou muitas mulheres em trabalhos de homens – e nas roupas deles: calças, macacões, blusões de aviador. Quando o tecido foi racionado, as saias ficaram mais curtas.” Com essa introdução das mulheres à atmosfera masculina, muitas adaptações precisaram ser feitas em seus vestuários, em todas as áreas era preciso funcionalidade e durabilidade. Era necessária a liberdade de movimentos, principalmente em atividades como as das enfermeiras de guerra. O Brasil colaborou no envio de profissionais médicos e enfermeiras, e também precisou se adaptar.
“Embarcaram usando um curioso uniforme: macacão verde-oliva (tipo mecânico) de mangas curtas; por dentro, uma camisa verde-oliva de mangas compridas, gravata, quepe, bornal e cantil.” (SILVA, p. 245)

Um dos principais motivos da escassez de tecidos foi o emprego destes na fabricação de uniformes e acessórios de guerra. Os pára-quedas, por exemplo, eram fabricados a partir da seda, por sua leveza; e os uniformes dos combatentes eram de sarja de algodão, por sua resistência e também porque os tecidos sintéticos apenas começavam a ser introduzidos no mercado. As necessidades da guerra demandaram grande mão de obra e esta era composta por prisioneiros de guerra, na maioria mulheres, de vários países europeus inclusive a França que, ironicamente é referência de moda em todo o mundo. Muitas dessas mulheres, antes personagens da sociedade francesa, algumas ilustres ou apenas cidadãs comuns, foram forçadas a trabalhar na indústria e por lá perderam suas vidas, ou a essência delas.
Estilistas da época, obviamente, também foram influenciados.
A italiana Elsa Schiaparelli deixou sua marca na moda contemporânea à Guerra, mas de forma diferente. Ela que sempre teve um estilo irreverente, à frente de seu tempo e não mudou com a Guerra. Ao contrário disso, sempre apresentou peças coloridas e fora do padrão. Usou estampas produzidas por grandes artistas plásticos como Salvador Dali e Jean Cocteau. As cores fortes sempre foram sua marca registrada, inclusive foi ela quem lançou o novo tom de rosa, conhecido como “rosa choque”. Schiaparelli se projetou na moda em Paris, onde viveu e resistiu à Guerra enquanto pode, mas acabou deixando a Europa e se refugiando em Nova Iorque, onde permaneceu por alguns anos, vindo a morrer em Paris em 1973.
Já Chanel, além de se aliar aos nazistas teve sua coleção toda masculinizada. No lugar de vestidos, saias e ícones femininos, apresentou calças em alfaiataria, ternos e roupas “masculinas”, geralmente acromáticas, para o guarda-roupa feminino. O estilo boyfriend muito falado hoje em dia foi introduzido por ela nos anos 1940, o que basicamente significa ser uma roupa de modelagem masculina adaptada ao corpo feminino. Chanel tinha vida ativa e bastante influente, era a modelo e publicitária da própria marca.
“Embora estilistas como Molyneux e Lanvin tivessem apresentado visuais semelhantes em suas coleções, quando Chanel apareceu nas revistas usando calças compridas, a moda estava lançada.” (WALLACH, P. 97)
 Ao contrário de Schiaparelli, Chanel pregava a sobriedade da roupa, com corte simples e cores básicas. Praticidade era regra em suas criações, ela queria libertar a mulher das roupas excessivamente elaboradas e nada práticas. E conseguiu, pelo menos por um tempo.
Após o término da Guerra, todos queriam esquecer aquele período e recomeçar a vida de forma diferente. No mesmo ano em que a Guerra terminou, houve uma nova transformação do guarda-roupa feminino. Elas queriam de volta a feminilidade e identidade perdidas. As saias voltaram com tudo, e bem rodadas. Os anos 1950 foram assinalados pelo godet, pela cintura marcada e a volta dos sapatos de salto alto. Além disso, os bailes voltaram a ser freqüentes; festas e celebrações que exigiam sempre muito luxo e novidades. Os vestidos bordados, os tecidos finos como brocados, sedas e devores voltavam a ser usados.
Mas mesmo com o retorno do tradicional visual feminino, as conquistas da moda não seriam mais esquecidas. Muito menos as conquistas das mulheres. Estas não aceitariam mais tantas imposições masculinas, visto que por anos tiveram que tomar as próprias decisões. O direito ao trabalho ao salário e à liberdade era agora prioridade, e não mais um sacrifício. A opção de vestir o que lhes fazia sentir-se bem deu às mulheres autonomia e confiança, algo que não poderia mais ser tirado. A partir de então, o mundo não estaria mais no total domínio masculino.




Referências Bibliográficas:
      BOYNE, John. The boy in the striped pajamas (O menino do pyjama listrado). Black Swan, 2006
      BROOKS, Geraldine. As memórias do livro. Ediouro Publicações, 2008.
      CRANE, Diana. A moda e seu papel social: classe, gênero e identidade das roupas. São Paulo, Senac, 2006. [Tradução Cristiana Coimbra]
      HUMBERT, Agnès. Resistência: a história de uma mulher que desafiou Hitler. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2008. [Tradução Regina Lyra].
      MONJARDIM, Jaime. Olga: muitas paixões numa só vida. Europa Filmes, 2004
      O Ataque Nazista: documentário de Guerra. Kives, 1943.
      SILVA, Hélio. 1944 O Brasil na Guerra. O ciclo de Vargas – vol. XIII. Editora Civilização Brasileira S.A., 1974
      SPIELBERG, Steven. A lista de Schindler. Universal Studios, 1993.
      TORNATORE, Giuseppe. Cinema Paradiso. Cristaldifilm, 1988.
      VEILLON, Dominique. Moda & Guerra: um retrato da França ocupada. Rio de Janeiro, Zahar Ed., 2004. [Tradução e glossário de André Telles].
      WALLACH, Janet. Chanel. Seu estilo e sua vida. São Paulo: Mandarim, 1999. [Tradução Aulyde Soares]

Um comentário:

  1. Gostei muito da matéria,e gostaria se possível que publicassem alguma matéria sobre a influência da guerra na moda aqui no Brasil nas décadas de 1940,pois estamos desenvolvendo um desfile justamente com esse tema.Desde já agradeço.


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