segunda-feira, 13 de junho de 2011

Ditadura da Beleza


Por Eudes Campomizzi e Juliana Homem 
Acadêmicos do 6º período de Design de Moda da Universidade FUMEC/FEA.

Resumo:
O presente artigo trata do tema o corpo na contemporaneidade. Por tanto, toma como referência o livro “A DITADURA DA BELEZA” de Augusto Cury. Sabemos que no momento histórico atual a forma de o homem contemporâneo lidar com o corpo retrata a cultura e o comportamento em nosso tempo. O autor do livro citado se utiliza da história de um pesquisador chamado Marco Polo, que depois de tratar uma jovem com anorexia nervosa se engaja na luta contra a ditadura da beleza, juntamente com um comitê de mulheres, como meio de alertar a sociedade sobre o tema.

Palavras-Chave: Corpo, beleza e contemporaneidade.

Antes de iniciarmos a discussão sobre o tema o corpo na contemporaneidade, faz-se necessário levantar algumas definições sobre o que seja belo.
Segundo o dicionário Aurélio (2000), belo é o que tem forma perfeita e proporções harmônicas; o que é agradável aos sentidos; elevado, sublime; bom, generoso; aprazível, sereno e próspero e feliz.

O conceito de belo apresentado pelo dicionário, justifica a associação que fazemos quando falamos do “belo”. Geralmente o associamos ao “bom” e este por sua vez, a algo que nos agrada. Partindo deste pressuposto, aquilo que nos é agradável seria, portanto, desejado por todos nós. No entanto esquecemos que o “belo” continuará a sê-lo, mesmo que não nos pertença.

Outro ponto importante a ser considerado antes de iniciarmos a discussão é que apesar de muitos especialistas (sociólogos, antropólogos, psicólogos) já incluírem o público masculino como novos atores da ditadura da beleza. Mas, trataremos de uma perspectiva voltada mais para o público feminino.

Nesse contexto, incentivadas principalmente pelas revistas, TV e cinema, a mulher aos poucos assumiu um duplo papel frente à sociedade: o de modelo identificador, do lado feminino e o de objeto de desejo do lado masculino e para atender a este modelo busca incessantemente por um padrão de beleza baseado em um tipo físico ideal (cabelo, altura, corpo, etc..), ou seja, a mulher é escrava da perfeição.

Em A Ditadura da Beleza essa escravidão é retratada através da estória de Sarah, uma linda modelo de 16 anos, que apesar de ter sucesso profissional e dinheiro, se tornou uma pessoa amarga, agressiva e deprimida em função da busca constante pela perfeição física. Obcecada e infeliz, Sarah resolve por fim à própria vida e nem sua mãe Elizabeth, editora de uma das mais importantes revistas femininas dos Estados Unidos, consegue libertá-la.

Desesperada com a atitude da filha, Elizabeth pede ajuda ao psiquiatra Marco Polo que em pouco tempo percebe que a protagonista é mais uma vítima da síndrome do PIB (Padrão Inatingível de Beleza), uma cruel realidade que oprime mulheres adolescentes e jovens que se revelam cada vez mais insatisfeitas com suas vidas. Aliados, Elizabeth e Marco Polo travam uma batalha e vão contra todos os interesses do mundo da beleza para conscientizar mulheres de todas as idades sobre a importância do amor próprio, da autoestima e da perspectiva de vida.

Destaca o autor que durante décadas tem investigado como psiquiatra e pesquisador da psicologia o que se pode dizer da mente humana. Em seus estudos denuncia o massacre emocional nas sociedades modernas e escreve sobre ele em forma de ficção. Cury se vale de dados reais com objetivo de dissecar um câncer social que tem feito literalmente centenas e milhões de seres humanos infelizes e frustrados, em especial mulheres e adolescentes.

Os estudos revelam que cerca de 600 milhões de mulheres sentem-se escravas dessa masmorra psíquica. É a maior tirania de todos os tempos e uma das mais devastadoras da saúde psíquica o padrão inatingível de beleza amplamente difundido na TV, nas revistas, no cinema, nos desfiles e nos comerciais. Tal tirania penetrou no inconsciente coletivo das pessoas e as aprisionou no único lugar em que não é admissível ser prisioneiro: dentro de si mesmo.

Segundo Cury (2005), vivemos uma paranóia coletiva. Os homens controlaram e feriram as mulheres em quase todas as sociedades. Conforme sua análise, considerados o sexo forte, os homens são na verdade seres frágeis, pois, só os frágeis controlam e agridem os outros. São também vítimas dessa ditadura como crianças e adolescentes. Com vergonha de sua imagem, angustiados, consomem cada vez mais pro­dutos em busca de fagulhas superficiais de prazer. A cada segundo destrói-se a infância de uma criança no mundo e assassinam os sonhos de um adolescente. É o desejo do autor que muitos deles possam ler atentamente sua obra para poderem escapar da armadilha em que, inconscientemente, correm o risco de ficar aprisionados.

A análise de Cury torna evidente que qualquer imposição de um padrão de beleza estereotipado para alicerçar a autoestima diante da autoimagem produz um desastre no inconsciente, um grave adoecimento emocional. Além disso, causa-nos perplexidade descobrir que há dezenas de milhões de pessoas nas sociedades abastadas que, apesar de terem uma mesa farta, estão morrendo de fome, pois bloquearam o apetite devido à intensa rejeição por sua autoimagem.

Diante disso, o autor nos convida, independentemente de idade ou sexo, a ter um caso de amor com nossa própria história de vida. Para que isso seja possível é Cury cita Schilder(1981). Quando este afirma:

Nossa própria beleza não contará apenas com a imagem que temos de nós mesmos, mas também, com a que os outros constroem a nosso respeito, a qual tomaremos de volta.  A imagem corporal é o resultado da vida social que temos.

Finalmente destaca que para fazer esta revolução, de aventura, lágrimas e alegrias, devemos nos inspirar no homem que defendeu as mulheres em todos os tempos: Jesus Cristo.

A atualidade do tema é indiscutível dada a possibilidade do leitor de se identificar com os personagens e sua luta por uma vida mais plena, em que cada pessoa se sinta livre para ser o que é sem se envergonhar de sua aparência e sem se comparar a ninguém, ou seja, o respeito às individualidades e diferenças.

Em entrevista à Revista Vida&Arte, o professor e cirurgião plástico, Antônio Roberto Bozola, afirma que “há pessoas que se olham no espelho a vida inteira e não sentem absolutamente nada, não se preocupam com a aparência. Isso também não é bom. A vaidade não é um defeito. É uma virtude. Mas quando ela se torna mais importante que a própria felicidade é hora de parar e procurar o que está errado em nós mesmos”.

Concluímos que a preocupação exagerada com a aparência pode gerar não somente alterações comportamentais em direção à esta procura pela aparência ideal, como também alguns distúrbios eventualmente percebidos como ansiedade, depressão, anorexia, bulimia, entre outros. Esse pensamento “o corpo como centro da vida” faz com que as pessoas pensem que um corpo sem rugas, sem estrias, com um tamanho ideal de quadril, seios e peso sob medida, seja o padrão ideal de beleza e a felicidade só seja possível a partir do momento que o atingimos.

Referências
CURY, Augusto. A Ditadura da Beleza e a revolução das mulheres. Sextante: Rio de Janeiro, 2005.
MORIN, Edgard. Cultura de Massas do Século XX, volume 1: Neurose. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária, 2005.
SCHILDER, P. A Imagem do Corpo: as energias construtivas da psique. São Paulo: Martins Fontes, 1981.
Revista Vida&Arte, disponível em
<http://www.diarioweb.com.br/vida/materia.asp?codigo=91&nredc=19> acesso em 26 de maio de 2011.
AURÉLIO, Buarque de Holanda Ferreira. Dicionário da língua portuguesa. 4. ed.Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.

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