sábado, 11 de dezembro de 2010

O século XIX e sua importância para a construção da identidade masculina

Por Marcela Ferreira e Rafaella Queiroz 
(Alunas do 7ª perídodo de Design de Moda da Universidade Fumec/Fea)

Resumo:

Neste artigo discute-se a importância da modernidade e dos adventos tecnológicos do século XIX para a construção da identidade masculina. Nesse sentido são apontados os motivos pelos quais o uso da cor preta pela população masculina era tão comum.

Palavras-chave:  Século XIX, identidade, modernidade

O mundo moderno nasce de rupturas e transformações na ordem das coisas. A cidade não mais se constitui ao redor do mundo religioso, mas está condenada a se erguer entre os muros das fábricas modernas. Sendo assim, a modernidade é transitória e efêmera e o homem moderno passa por uma transformação no processo de percepção.

Segundo Sérgio Lage (1989, p. 130) “Se o século XVIII ficou marcado como o século das luzes, o século XIX está sob o signo das imagens. O XIX não é o marco apenas do surgimento dos meios de reprodutibilidade técnica, como a fotografia e o cinema, mas também da gênese de uma cultura de imagens e simulacros de consumo.”

De acordo com os estudos de Charles Baudelaire, devido à vida em uma metrópole o homem torna-se menos reflexivo e contemplativo, e mais voltado à fragmentação de suas percepções.

Dessa forma há um empobrecimento da partilha de experiências e promoção do individualismo e anonimato, o que originou uma busca pela distinção através da aparência e o conflito com o ideal de uniformidade. Porém, a aparência pode ser também um reflexo da identidade (condição social, profissão). Nesse momento a moda se transforma em uma importante linguagem. Ela extrapola sua função utilitária e passa a ser uma matéria semiótica.

O século XIX, mais do que em qualquer outro período, foi o momento em que os homens mais vestiram preto. No século anterior e nas primeiras décadas do XIX os homens utilizavam cores em sua indumentária, mas a partir de então, a roupa masculina tornou-se cada vez mais escura e austera.

A explicação de Baudelaire para esse acromatismo na moda masculina é política. Segundo o autor o preto era uma forma de igualdade universal, um nivelador. Já para Flügel o preto estava relacionado às mudanças sóciais da Revolução Francesa, o que promoveu a simplificação e uniformidade na forma de se vestir.

Enquanto momento histórico, o século XIX é resultado da Revolução Industrial. Nesse período a roupa masculina perde a cor, deixando cor e brilho para a indumentária feminina. Preto representava o mundo do trabalho e da dignidade profissional, fechado às mulheres.

Outro aspecto que influenciou a permanência do preto como elemento construtivo da indumentária na moda desse perído, foi o surgimento dos movimentos de estilo. Eles correspondiam a um grupo especial de música, estilo gráfico e estética pictórica, como, também, a uma mentalidade e espírito de um tempo. Nesse momento a melancolia imposta pela terceira fase do Romantismo, e o surgimento dos Dândis vinculado ao Decadentismo, impuseram uma elegância sóbria.

Por fim existe a explicação baseada nos estudos de Charles Darwin. O negro é uma característica da evolução sexual, o que era uma questão muito relevante para os Dândis.

Ao se vestir, o homem exerce sua função de significante. Portar uma indumentária, mais do que um ato de pudor, adorno ou proteção é uma forma de se transmitir sentidos, de se expressar.

A moda é ao mesmo tempo espaço de comunicação e meio de interação entre indivíduos. Assim, podemos concluir que a roupa, além de possuir sua finalidade utilitária, extrapola esse valor funcional e passa a ser uma materialização de um esquema simbólico.

A moda como mídia é um elemento homogeneizante e massificador, mas ao mesmo tempo é um sistema provedor da vontade individual e, assim, é por meio do estilo que se faz a indissociável relação de imitação e vontade de singularidade.



Bibliografia:

BAUDELAIRE, Charles. Sobre a Modernidade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996
BENJAMIM, Walter. A modernidade e os modernos. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2000.
HARVEY, John. Homens de Preto. São Paulo: UNESP, 2003
CARVALHO, Sérgio Lage. A saturação do olhar e a vertigem dos sentidos. In: Revista da USp, 1989.


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