Por: Bruna Pimenta, Gabriela Gontijo Gonzaga, Priscila Mazzini, Vânia Veloso - estudantes de Moda do 7º e 8º períodos de Design de Moda da Universidade Fumec.
Resumo:
Resumo:
O artigo a seguir fala sobre o estilista mineiro Ronaldo Fraga, sua coleção sobre o Rio São Francisco e a exposição que ele fez no Palácio das artes. A partir disso foi feita uma análise sobre a moda e a possibilidade desta não ser algo efêmero.
Palavras chaves: Ronaldo Fraga – moda – Rio São Francisco – efemeridade – Charles Baudelaire – Walter Benjamim
1 Introdução:
Ronaldo Fraga é um estilista mineiro conhecido no Brasil e no mundo. Formou-se em moda na Universidade Federal de Minas Gerais e graduou em Nova York, por mérito de uma bolsa de estudos que ganhou ao participar de um concurso da empresa Têxtil Santista. Dono de um estilo ímpar, as roupas do estilista são reconhecidas de longe, pois a característica principal de Ronaldo Fraga é a inovação. A cada estação ele traz novidades à passarela que surpreendem jornalistas e encantam admiradores. Ronaldo gosta de ousar em cores, texturas, bordados, enfeites e modelagens diferenciadas. Sseus desfiles são espetáculos quase teatrais em que os temas recorrentes são sempre ligados às festas populares, protestos, fé, coreografias, sons, celebrações e cultura popular de um modo geral. Ele pensa profundamente no tema, mergulha no seu significado, nos manifestos, e transmite toda poesia, graça, liberdade e até mesmo problemas sociais que são parte do seu universo particular. Segundo Gloria Kalil, no livro Coleção Moda Brasileira Ronaldo Fraga, “As roupas de Ronaldo Fraga são como ele: inventivas, pouco convencionais, cheias de referências infantis e vagamente nostálgicas.”
2 A Coleção:
Foi nesse contexto nacionalista que Ronaldo Fraga surpreendeu o publico de seu desfile de verão 2009, que aconteceu no São Paulo fashion week. O tema: Rio São Francisco, chamado carinhosamente de “Velho Chico”. Esse rio famoso atravessa cinco estados brasileiros em meio a uma rica fauna e flora. Nele encontram-se ainda hidrelétricas que empregam a população local e são importantes para a sobrevivência do povo. Toda essa cultura em torno do rio foi elemento de pesquisa para Fraga.
O estilista ultrapassou os limites de sua memória e de seus conhecimentos sobre o assunto ao viajar, por dois meses pelas margens do São Francisco em busca de maiores referenciais. Além de bordadeiras e demais ribeirinhas, trouxe consigo uma enorme bagagem, como lendas do Velho Chico, peixes de diversas espécies, estampas de madeira inspiradas nos barcos e nas casas das populações, gamas de azuis e marrons que compõem o rio, fotografias, sabores, aromas, texturas.
Foto: Coleção Rio São Francisco
Mergulhado neste universo fez assim uma coleção com peças que resgatavam as lendas do rio, através de vestidos feitos em tapeçaria, emaranhados de bordados que representam as nascentes e margens do curso das águas e estampas com motivos de peixes e madeiras. Na confecção das roupas também usou peças em jeans com lavagem desgastadas, sacos de juta e na passarela, canudinhos representando “olhos de canudinho para beber o rio”, o que mostra um pouco da pesquisa, tema e coleção. As peças apresentadas são verdadeiros objetos de tradução da cultura popular do vale do São Francisco.
3 A eternização do moda:
A exposição no Palácio das Artes segue o conceito de arte contemporânea, pois é extremamente sinestésica e interativa. Surge com a intenção de relembrar a coleção e eternizar de alguma maneira todo o processo criativo e finalizado de Ronaldo Fraga. De certa forma a exposição pode ser entendida como uma tentativa de ser um contraponto para questões teóricas do universo da moda, como é o caso da abordagem de Walter Benjamin ao dialogar com Charles Baudelaire sobre a moda ser algo frívolo, resultado de uma modernidade acelerada e descabida, que torna o objeto, a tendência, algo extremamente efêmero e passageiro. Essa discussão pode ser ilustrada pela citação de Bernd Witte, no texto: Por que o moderno envelhece tão rápido? (concepção da modernidade em Walter Benjamin (1992, p.2).
A produção da mente ou do espírito, a produção cultural, poder-se ia dizer, tem como meta a efetividade e, com isso, a durabilidade. Mas efetividade e durabilidade são impossibilitadas pelo principio da modernidade. Pois o que acaba de ser criado é imediatamente algo envelhecido e é vitima do desprezo do esquecimento.
4 A exposição:
Ao entrarmos na exposição nos deparamos com camisas dependuradas com estampas de carrancas que é símbolo máximo da cultura do rio. Malas de caixeiros viajantes, malas antigas com televisores ligados que narram depoimentos dos moradores de moradores dos vilarejos próximos ao rio, e fotos que ilustram um pouco a região. Para representar o navio, Benjamin Guimarães , que percorre o rio, Ronaldo usa redes suspensas que simbolizam a segunda classe do navio as portas e os quartos dos passageiros.
Também na exposição, painéis com ilustração das lendas e principais personagens do Velho Chico como a Serpente que dorme, Mãe d'água, Minhocão, Cachorrinha d'água, Cabloco dágua, Pisadeira, entre outros, e garrafas com água do próprio rio e rótulos fictícios que homenageiam as cidades e elementos do rio, criados por Ronaldo Fraga para dar vida aos rótulos das cachaças, que dizia ele, “estavam muito repetitivos e sem criatividade”'. Para contextualizar os vestidos da coleção, a voz de Maria Bethania é ouvida recitando poemas de Carlos Drumond, que, segundo o estilista, se o rio São Francisco tivesse voz, seria a de Maria Bethania.
O estilista mineiro Ronaldo Fraga ao propor tal exposição enfrenta questões muito discutidas no universo da moda em que, a necessidade de se buscar algo para além de agora parece sujeitar a moda sempre à efemeridade.
O estilista conseguiu inovar, além do tema e da própria coleção, a forma de apresentação, ao criar conceitos para novas discussões.
O estilista conseguiu inovar, além do tema e da própria coleção, a forma de apresentação, ao criar conceitos para novas discussões.
6 Referências:
FRAGA, Ronaldo. Disponível em: <http://www.ronaldofraga.com.br >. Acesso em: 29 nov. 2010.
FRAGA, Ronaldo. Filhotes. Disponível em: <http://estilo.uol.com.br>. Acesso em: 29 nov. 2010.
FRAGA, Ronaldo. Exposição. Disponível em: <http://saofranciscoronaldofraga.com.br >. Acesso em: 26 nov. 2010.
QUEIROZ, João Rodolfo; BOTELHO, Reinaldo. Coleção moda brasileira Ronaldo Fraga. Rio de Janeiro: COSAC NAIFY, 2007.
ROUANET, P. Sérgio. Por que o moderno envelhece tão rápido. Revista USP – Dossiê Walter Benjamim, nº 15. São Paulo,1992.
TEXTILES, Santana. Disponível em: <http://www.santana.ind.br/>. Acesso em: 28 nov. 2010.
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