quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Moda sustentável na prática

Por Laís Lemos e Sarah Anicio alunas do 6º e 7º período de Design de Moda da Universidade Fumec/FEA. 

Resumo:
O presente artigo aborda a necessidade da moda contemporânea de aderir à ideias sustentáveis e como essa necessidade é divulgada através de eventos e projetos. Como funcionam, onde ocorrem, metas e obstáculos encontrados.

Palavras-chave: moda, sustentabilidade, meio ambiente, ecologia, comportamento, projetos, eventos



A sociedade está em constante mudança em todos os âmbitos. Talvez uma das mais perceptíveis nos últimos anos seria a do comportamento de algumas empresas e da população em relação ao meio ambiente. A moda como um grande fenômeno comportamental reflete essa necessidade pela busca à sustentabilidade e rejeição ao consumo irresponsável.

Durante a fase projetual de um produto, seja ele de moda ou de qualquer outro setor, é importante que a preocupação do designer não esteja somente no objeto em sí, mas em toda sua elaboração: necessidades de mercado, matérias-primas, formas de produção, custos e, atualmente, questões ambientais. Dentro da moda, especificamente, encontram-se alguns projetos ecológicos, executados em diferentes processos que geram boas alternativas para neutralizar as agressões ecológicas.

Uma das marcas pioneiras e referência em moda e sustentabilidade é a Osklen. O estilista e proprietário da marca, Oscar Metsavaht, criou o Instituto-e. Lançado oficialmente em 2007 no SPFW, baseia-se em cinco ideais: origem da matéria-prima, impacto do processo produtivo, relações trabalhistas e/ou com a comunidade, design e atributos comerciais. Seu maior objetivo é aliar design com a sustentabilidade produzindo peças que se tornarão objetos de desejo de todos, mesmo daqueles que ainda não são conscientizados para as questões ambientais.

A marca Cantão também assume compromisso com a sustentabilidade criando o projeto Reciclagem Cantão que busca solucionar o reaproveitamento do lixo têxtil. Materiais como restos de tecidos, refugo de calçados e embalagens são reformulados para virarem novos produtos. Além disso, o projeto doa materiais descartados para que companhias de teatro possam compor seus cenários e figurinos, transformando o que seria lixo em arte.

Eventos como palestras e workshops, além de ajudarem na conscientização e reeducação da sociedade,também são importantes para que novas propostas e ideias sejam expostas e discutidas. Um exemplo disso é o Paraty Echo Fashion que reúne Designers, estilistas e estudantes de moda em grandes encontros durante todo o ano para pensar ecologicamente. O evento promove diversas atividades unindo as comunidades tradicionais de Paraty como os indígenas com seus bordados e traçados, a quilombola com seu colorido e cestarias e as rendeiras e tecelãs tradicionais, com novas ideias e tendências vindas de toda parte do Brasil sempre com visão na Eco Moda.

Os grandes objetivos dos encontros são o fortalecimento do desenvolvimento sustentável, a conscientização e educação ambiental, o incentivo a pesquisas e criações que preservem o meio ambiente, o respeito à diversidade cultural, além da geração de renda e economia solidária.

O Instituto Akatu, organização não governamental sem fins lucrativos, trabalha pela conscientização e mobilização da sociedade para o Consumo Consciente. Com a ajuda de seus apoiadores, pessoas físicas ou jurídicas, a instituição busca conscientizar e mobilizar as pessoas para o uso do poder transformador dos seus atos de consumo consciente como instrumento de construção da sustentabilidade da vida no planeta.

ONG Ecotece
Com a legenda de Instituto do Vestir Consciente, o Ecotece segue como uma das maiores entidades de pensamento ecológico na moda. O instituto participa de inúmeros projetos sociais, entre eles o Retece, um grupo de 16 mulheres que produz brindes e produtos feitos com o reaproveitamento de tecidos. A ONG tem também um projeto junto
a grandes empresas, como a Vale, a Volkswagen e a Consul, de transformação de uniformes inutilizáveis em novos produtos e materiais gerando economia e evitando o desperdício.

Além dos projetos fixos, como os citados anteriormente, muitos estilistas e marcas lançam campanhas isoladas de tempos em tempos. Como por exemplo, o Projeto Moda Reciclada 2010 de Alexandre Herchcovitch em parceira com a ONG Florescer, que já tem em seu currículo o projeto Recicla Jeans, em que jeans reciclado e resíduos têxteis ganham espaço na confecção de novas peças. Já no projeto com Herchcovitch, roupas doadasforam transformadas em peças exclusivas assinadas pelo estilista. Durante a execução das peças foi montado um ateliê de vidro no Morumbi Shopping permitindo que os clientes acompanhassem todo o processo.

Porém, ainda existem grandes obstáculos para a Eco Moda e o vestir consciente. Na matéria de Jeniffer Perlman, para o site de Erika Palomino, nota-se que a falta de material orgânico e de fornecedor ainda é um empecilho encontrado. Tanto que na própria loja do Greenpeace as roupas não entram na categoria das orgânicas. "Cada um tem o seu ecologicamente correto", explica o dono da loja, Samy Menasce. No caso dos produtos do Greenpeace os critérios utilizados são rigorosos nos quesitos origem, matéria-prima renovável, processo de produção limpa (que não contamine ar e água), economia de água e energia, além de entrar em decomposição sem contaminar o solo. Em algumas coleções o estilista mineiro Ronaldo Fraga usou tecido orgânico e acabou desistindo da proposta pela falta de fornecedor e material disponível. A diretora do Instituto E, Nina Braga, enfrenta o mesmo problema: "Temos que nos preocupar em aumentar a quantidade do fio orgânico para que possamos até baratear o produto e atingir a um número maior de consumidores.". A baixa quantidade de consumidores deve-se também pelo preço dos produtos sustentáveis. De acordo com uma matéria da revista Vida Simples, a maioria dessas roupas são cerca de 30% mais caras pela produção em baixa escala.

Mesmo marcas que já trabalham com a sustentabilidade, como é o caso da Osklen, não negam as dificuldades: "Temos restrições, sim, como a uniformidade e a padronagem - uma cor nunca fica igual à outra e o mesmo vale para materiais, como escama de peixe", diz Nina Braga.

Um ponto importante a ser lembrado é que produtos ecológicos e orgânicos são coisas diferentes. Como é o caso do tecido de bambu, que embora ecológico, tem um processo produtivo altamente poluente. "O vestir consciente não se restringe apenas aos materiais, deve consideraros processos produtivos, os ativos sociais que o produto gera e seu ciclo de vida do consumidor ao descarte", acrescenta Ana Cândida Zanesco, presidente do Instituto Ecotece. Embora ainda existam mal entendidos, muitas instituições lutam por uma regulamentação do governo neste sentido. "Existe um estudo de normas brasileiras para têxteis orgânicos que pede a reserva do termo ‘ecológico' apenas para têxteis que sejam de fato de origem orgânica", conclui Ana Cândida.

A falta de incentivo do governo, a escassez de orientação e divulgação de projetos dentro de escolas e ambientes acadêmicos e, principalmente, a mentalidade dos consumidores e das empresas, que ainda não se deram conta de suas responsabilidades sócio ambientais, são alguns problemas ainda enfrentados. Muitas vezes esses problemas locais são reflexos de problemas universais. Em Empresas na Sociedade: Sustentabilidade e Responsabilidade Social, são apresentas as várias limitações para a gestão das questões globais através dos acordos internacionais: a dificuldade de alguns países em cumprir os acordos estabelecido por falta de recursos; a não obrigatoriedade de aderência aos acordos por causa da soberania dos países; a disparidade econômica entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento e a não punibilidade aos países que não cumprem os acordos e falta de incentivos para que eles os cumpram.

Enquanto não houver uma consciência global em relação ao meio ambiente, os governos não se verão obrigados a mudar ou seguir regras. As mudanças começam de baixo para cima, não á lei que obriga as pessoas a mudarem a forma de pensar, mas a forma de pensar da população tem poder suficiente para mudar as regras. As grandes empresas vão atrás do lucro e a grande massa é quem provem esse lucro. Se os consumidores compram sem consciência ambiental, o que levaria as empresas a terem responsabilidade ambiental?

Referencias bibliográficas:


Brower, Cara; Mallory; Rachel; Ohlman, Zachary. Diseño Eco-Experimental. Barcelona: Gustavo Gili, 2007

L. COELHO, Luiz Antonio. Conceitos-chave em design. Rio de Janeiro: Novas Ideias, 2008

OLIVEIRA, J.A.P de. Empresas na Sociedade: Sustentabilidade e Responsabilidade Social. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.

SCHLEIFER, Simone K. Diseño Eco-Experimental. Barcelona: Huaitan Publications, 2010


http://ww2.cantao.com.br/

PERLMAN, Jeniffer. Povo da moda e da ecologia levanta prós e contras dos materiais e design de roupas "verdes". Erika Palomino, 2006. Disponível em: <http://www.erikapalomino.com.br/erika2006/fashion.php?m=6665#titulo.> Acesso em: 24 de novembro de 2011.

BINDO,Márcia. A nova moda. Revista Vida Simples, Agosto 2007. Disponível em:<
http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/atitude/conteudo_245161.shtml?func=2> Acesso em: 24 de novembro de 2011.
 
ONG FLORESCER <http://www.ongflorescer.com.br/>

PARATY ECO FASHION http://www.paratyecofashion.com.br/
ECOTECE <http://ecotece.org.br/>

http://www.e-brigade.org

http://www.e-fabrics.com.br/

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