segunda-feira, 13 de junho de 2011

Mau gosto, exagero, cópia, falta de autênticidade… Será?

Por Laura Alvarenga e Leopoldo Gurgel, alunos do 6º e 7º períodos de Design de Moda da Universidade FUMEC-FEA.

RESUMO: 
O presente artigo aborda as manifestações do Kitsch na sociedade contemporânea e a influência que exerce na moda. Para tanto, pesquisamos embasamento no livro de Humberto Eco, “A História da Feiúra”  e também buscamos referências nos estudos de Waldenyr Caldas “Uma utopia do gosto”.


PALAVRAS- CHAVES:
Kitsch, moda, contemporâneidade.

O Kitsch, do alemão verkitschen, que significa “ vender barato”, é um termo usado para denominar objetos de valor estético duvidoso e exagerado. O termo surgiu também, do verbo Kitschen que possui dois significados: “varrer a lama ou o lixo das ruas” e “maquiar móveis para que pareçam antigos” Geralmente, os Kitsches, são considerados cópias inferiores ao original. Para alguns autores o Kitsch é o mal do século XX e traduz a massificação cultural. Para Olney Krüse, que foi o maior colecionador de objetos kitsches, o mesmo seria como uma gota bom humor que faltava à arte séria. Apesar de ser conhecido  pela falta de autenticidade e associado ao mau gosto, o kitsch está presente e ganha cada vez mais espaço no cotidiano e na vida contemporânea.

Segundo Humberto Eco (2007), o Kitsch surgiu na segunda metade do século XIX

(…) quando os turistas americanos em Munique, querendo comprar quadros, mas com preços mais baixos, pediam um desconto (sketch). Daí viria o termo, designando quinquilharias para compradores desejosos de experiências estéticas fáceis.

Assim, kitsch são as “quinquilharias” que acabamos por nos deparar todos os dias e que “atire a primeira pedra” quem nunca teve um objeto kitsch. A sociedade contemporânea está impregnada por estes produtos. Um acessório dourado que não é ouro, a “pérola” de plástico, o “diamante” que na verdade é strass... certos objetos de porcelanas que praticamente não possuem outra funcionalidade senão enfeitar e causar efeito, um relógio falsificado que custa 5% do preço real, qualquer produto que seja meramente uma cópia, artificial pode-se chamar de kitsch.
A popularização deste fenômeno cultural acontece na década de 30 em que estes objetos polêmicos e encantadores, se tornam o centro da indústria cultural e da produção de massa. Talvez o Kitsch também tenha se popularizado porque

finge não exigir nada de seus consumidores além do seu valor de custo. Não causa o mesmo impacto de uma obra de arte, mas procura imitar seus efeitos. Sua presença fabricada finge ser capaz do que na verdade não é. (ECO, 2007, p. 310).

De tão popular que se tornou, alguns estilistas fizeram coleções inspiradas neste tema, que é o caso de Manish Arora (figura 1) um estilista indiano, famoso por suas criações com motivos kitsches. Considerado popularmente como o “John Galiano da Índia”, Arora sempre utiliza muitas cores, informação e criatividade. Celebridades como Kate Perry, Britney Spears, Rihanna e Lady Gaga, usaram a marca em importantes eventos, como o MTV Europe Music Awards e turnês.  O estilista fez projetos paralelos para marcas como SWATCH, NIVEA e ABSOLUT.


Jun Nakao também usou o Kitsch como inspiração para a coleção de Verão-2003, intitulada “Future Kitsch”, o release explica que a coleção fala sobre tecnologia x tempo.

A idéia é mostrar o tempo e sua ação sobre a tecnologia, destituindo-a de modernidade e novidade, tornando-a obsoleta e antiga, revelando suas falhas e artificialidade, transformando-a em kitsch, um objeto tecnológico-plástico. (NAKAO, 2003)

Ronaldo Fraga (figura 2), estilista mineiro, fez da estética Kitsch um estilo próprio, como ele mesmo diz por aí: De Kitsch e de louco todos nós temos um pouco. Suas criações são irreverentes e concebidas de forma divertida. As estampas, modelagem e produção são sempre carregadas de muita informação, com aspecto “over”, caracterizando assim a estética Kitsch.



Como vimos, talvez, o Kitsch seja associado ao mau gosto pela sua história, porém as obras de arte, coleções de moda e editoriais baseados na estética kitsch são universalmente considerados de bom gosto, sendo objetos de desejo e comercialmente bem sucedidos.


Referências

CALDAS, Waldenyr. Uma utopia do gosto. São Paulo: Brasiliense, 1999.

CALDAS, D. Modas e Mídias: Breve Ensaio Sobre a Banalização do Conceito de Tendência na Cultura Contemporânea. 2008. XXVII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – FFLCH-USP, 2008.
ECO, Humberto. A história da Feiura. São Paulo: ed. Record, 2007.
NAKAO, Jun. 2003, site oficial: www.jumnakao.com.br/ftrktsch.html.

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