Por Carla Quintanilha e Lorena Lopes, alunas do 8º período de Design de Moda da Universidade FUMEC
Resumo:
Este artigo tem como objetivo apresentar a relação existente entre a arquitetura e a moda, em que podemos nos utilizar da metáfora para dizer que assim como a arquitetura desenvolve projetos, constrói edificações, a moda metaforicamente constrói vestimentas, embora haja evidentes especificidades e distinções entre essas duas áreas. Além disso, a arquitetura vem sendo fonte de inspiração para a moda desde os meados dos anos 20.
Palavras chaves:
Moda, Arquitetura, Inspiração, Projeto, Construção, Modelagem.
A moda como é entendida atualmente, existe desde o final da Idade Média, quando uma conjunção de fatores sócio-econômicos, políticos e culturais cria terreno possível para o seu surgimento. Segundo Lipovestsky (1989),
A moda não pertence a todas as épocas nem a todas as civilizações [...]Contra uma pretensa universalidade da moda ela é colocada aqui como tendo um começo localizável na história. Contra a idéia de que a moda é um fenômeno consubstancial à vida humano-social, afirmamo-la como um processo excepcional, inseparável do nascimento e do mundo moderno ocidental. (LIPOVETSKY, 1989, p.23).
É neste período que a moda passa a se constituir como sistema, com todas as características que lhe são específicas:
Só a partir do final da Idade Média é possível reconhecer a ordem própria da moda, a moda como sistema, com suas metamorfoses incessantes, seus movimentos bruscos, suas extravagâncias. A renovação das formas se torna um valor mundano, a fantasia exibe seus artifícios e seus exageros na alta sociedade, a inconstância em matéria de forma e ornamentações já não é exceção, mas regra permanente: a moda nasceu. (LIPOVETSKY,1989, p. 23).
A partir de sua gênese e durante todo o seu desenvolvimento, com suas distintas fases, a moda é reflexo e tradução de sua época, ela é narrativa imagética e espetáculo, representação cultural e memória de um povo. Assim sendo, ela é indissociável de seu entorno e se conecta com as diversas áreas de nossa sociedade, estabelecendo não apenas uma diálogo com estas mas um intercâmbio de elementos.
As artes, a música, o cinema, estão sempre compartilhando de uma interdisciplinaridade com a moda. Todos, como componentes da nossa cultura e manifestações do nossa civilização falam sobre nós mesmos, expressam as relações que vivemos e por isso utilizam inevitavelmente dos mesmos subsídios. É o que acontece na relação moda-arquitetura. Duas áreas que são constantemente postas em paralelo e que partilham de muitas intersecções.
A primeira conexão que refletimos a respeito desta relação e que acreditamos ser primaria é quanto à construção. Tanto a moda como a arquitetura constroem algo para abrigar o homem. De acordo com Yopanan Rebello,
A roupa pode ser vista, em primeira instância, como o abrigo imediato, mais próximo da pele humana do que qualquer outro elemento que arquitetura possa conceber. Uma espécie de arquitetura primeira, abrigo que se descola da pele do homem e se projeta ampliando sua ocupação (REBELLO, 2005)
Sob esta perspectiva, moda e arquitetura possuem a mesma finalidade. Apesar da grande distância entre os produtos de cada uma, é como se a intenção inicial, que pauta as suas existências se convergisse.
Os meios utilizados para o desenvolvimento de seus produtos também são ponto em comum. Forma, proporções, ornamentos se combinam para gerar moda e arquitetura. Ambas trabalham com projetos e fazem uso do design. Desta maneira, muitos estilistas tem o seu trabalho diretamente associado à arquitetura, devido ao caráter de suas criações. O estilista espanhol Balenciaga, é um grande exemplo, na década de 60, ousou ao criar peças com volumes e estruturas diferenciadas e foi considerado o arquiteto da moda. Hoje, o francês Nicholas Ghesquière, que comanda a Maison Balenciaga, dá continuidade ao seu trabalho e desenvolve roupas com um estudo profundo de modelagem. Issey Miyake com suas incríveis criações é também um exemplo na contemporaneidade por desenvolver modelagens super elaboradas para materializar sua idéia e concretizar seu projeto inicial.
Outra conexão que destacamos é a arquitetura como fonte de inspiração para a moda. Podemos observar essa relação desde os anos 20, quando Paul Poiret, considerado o primeiro grande estilista do século XX, já criava roupas inovadoras, inspiradas nas linhas da arquitetura art-déco. Coco Chanel também recebeu grande influência do mestre francês da arquitetura Le Corbusier e das formas da escola alemã Bauhaus. Já mais tarde, Courrèges, nos anos 60, vestia mulheres modernas com suas peças de tendência futurista, feitas de materiais sintéticos e plástico, inspiradas nas criações do designer Joe Colombo. Atualmente, um exemplo foi a coleção verão 2010 de Gloria Coelho na qual uma das inspirações para a coleção foi o arquiteto Frank Gehry, criador do Museu Guggenheim de Bilbao. Assim, a moda faz uso de imagens, cores, formas, que possam ser referências e um start do processo criativo. Daí, muitas obras arquitetônicas foram temas de coleções.
Também percebemos que mesmo não sendo a inspiração direta de uma coleção, princípios semelhantes se repetem tanto na arquitetura como nas tendências da moda, pois ambas, como já dissemos, encontram-se ligadas às correntes estéticas de seu tempo, e sempre existe
uma convergência dos valores, das mesmas vontades. É o espírito do tempo de cada época que faz com que a moda, a arquitetura e outras disciplinas partilhem dos mesmos traços.
Bibliografia
LIPOVETSKY, Gilles. O Império do efêmero. A moda e seu destino nas sociedades modernas.São Paulo, Companhia das Letras, 1989
SOUZA, Gilda de Mello. O espírito das roupas: a moda no século dezenove. São Paulo, Companhia das Letras, c1987. 255p
http://www.colheradacultural.com.br/content/20100202011202.000.3-N.php
http://www.revistaau.com.br/arquitetura-urbanismo/133/artigo22714-1.asp
http://moda.ig.com.br/o+eterno+namoro+entre+moda+e+arquitetura/n1237530235808.html
http://almanaque.folha.uol.com.br/balenciaga.htm
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