segunda-feira, 21 de março de 2011

Thamiris Piló

Por Fernanda Freitas


Thamiris Piló Machado, 21 anos, natural do Rio de Janeiro, estudante do 8º período de Design de Moda da Universidade Fumec, reside em Belo Horizonte desde 2000, e, em entrevista, nos conta sobre sua formação acadêmica e sobre seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) que tem como tema Intervenção Urbana. Nele irá desenvolver modelagens diferenciadas. Trabalhou na empresa Bossa, onde teve sua primeira experiência na área de moda e atualmente trabalha como assistente de estilo para a marca Latifundio — uma empresa no segmento de confecção com atuação em todo território brasileiro e que se encontra num momento de forte expansão. 

RETRÓS: Por que se mudou para Belo Horizonte?
THAMIRIS: Toda a minha família materna já morava aqui. Alguns anos depois que meus pais se divorciaram, minha mãe resolveu vir para cá para ficar perto da família.

RETRÓS: Como começou sua relação com a moda?
THAMIRIS: Desde pequena estava sempre inventando alguma coisa original com acessórios e roupas. Quando entrei na minha fase punk/skatista, aos 12/13 anos de idade, comecei a me vestir de maneira diferente que as demais meninas da minha idade, e tinha muita dificuldade em achar as roupas que gostava. Foi quando surgiu a idéia de fazer moda. Neste período ainda estava finalizando o ensino fundamental.

RETRÓS: Alguém na sua família trabalha na área de moda?
THAMIRIS: O estilista e artista plástico Leo Piló, responsável pelo Atelier da Asmare, é primo da minha mãe. Mas só vim a conhecer seu trabalho depois de já estar envolvida no meio da moda. Foi quando surgiu a oportunidade de fazer um estágio com ele em 2007.

RETRÓS: Como foi a experiência na área de atuação no seu primeiro estágio na empresa Bossa?
THAMIRIS: A Bossa é uma confecção que vem se destacando cada vez mais no mercado da moda. Esse estágio foi muito importante para o meu aprendizado. Foi onde, tive contato pela primeira vez com todas as etapas do desenvolvimento de uma coleção, mesmo que eu não participasse ativamente delas. Além disso, foi a minha primeira experiência no mercado de trabalho, o que me abriu os olhos para muitas coisas, como para a diferença entre o meio acadêmico e o meio profissional.

 RETRÓS: Quanto tempo durou essa experiência e que foi de proveito enquanto profissional?
THAMIRIS: Fiquei lá por quatro meses. Aprendi a me relacionar em um ambiente de trabalho e a ver que, na prática, as coisas são bem diferentes do que pensamos.

RETRÓS: Atualmente você está na Latifundio como assistente de estilo. Fale um pouco sobre essa sua experiência.
THAMIRIS: Tem sido proveitosa. Sinto muita reciprocidade e apoio vindo dos meus superiores. Claro que para cada processo tem certos pontos de tensão, mas esses são sempre necessários para o nosso aprendizado.

RETRÓS: Quais são as expectativas nesse novo cargo?
THAMIRIS: O trabalho hoje me traz muitas expectativas boas, principalmente devido ao ambiente tranqüilo e à ótima relação com os colegas de trabalho. Quando trabalhamos em uma equipe de estilo, é importante ter sintonia de pensamento entre todos os membros da equipe, e isso é algo que definitivamente nós temos na Latifundio. Minhas expectativas são as de conseguir executar meu trabalho com mais profissionalismo, e são as de que meu espaço lá dentro continue a crescer cada vez mais.

RETRÓS: Qual a conexão entre o seu trabalho e a faculdade?
THAMIRIS: Um dos conhecimentos acadêmicos que já aproveitei muito, em ambos os estágios, foi o de desenho técnico. Quando ficava responsável por desenvolver fichas técnicas, o conhecimento de desenho técnico foi imprescindível. Também utilizei muito os conhecimentos de estamparia e de computação gráfica.

RETRÓS: O currículo da faculdade atende às exigências do seu trabalho?
THAMIRIS: Na verdade, o mercado de trabalho é algo totalmente diferente da teoria da faculdade, e está sempre nos demandando coisas novas e que requerem esforço pessoal. Acho que o currículo da faculdade é uma base muito importante para a nossa formação, mas é interessante me deparar com desafios e ter que batalhar pra conseguir descobrir como fazer determinado projeto e  qual a melhor maneira de fazê-lo.

RETRÓS: Quais os desafios que encontra na área?
THAMIRIS: Tenho tido muitos desafios bons na área de web. Estou criando um sistema de sites PHP da empresa. Às vezes acontece uma barreira e pensamentos de “não vou conseguir”, mas quando você finalmente consegue, o sentimento é muito bom.

RETRÓS: Em que área da moda tem mais interesse?
THAMIRIS: A área de criação. Mas gosto também de fotografia, de jornalismo e das coisas relacionadas ao design gráfico.

RETRÓS: Quais as referências que inspiram seu trabalho?
THAMIRIS: Uso como referência o período da minha adolescência, os anos 90, e também referências de street art, lomografia[1] e outras coisas que acho interessantes por algum aspecto gráfico/estético. Mas sempre tento adequar as minhas referências à proposta dos projetos que executo.

RETRÓS: O tema do seu TCC é Intervenção Urbana, fale um pouco sobre o planejamento e desenvolvimento do seu projeto.
THAMIRIS: O meu projeto de graduação será desenvolvido a partir da temática da intervenção urbana, explorando modelagens diferenciadas com processos de desconstrução de peças e texturas urbanas obtidas através de processos de lavanderia em jeans. As fotos do editorial serão transformadas em stickers, e coladas nas ruas da cidade. Depois farei a documentação desses stickers em fotos e vídeo, que serão apresentados em exposição no dia do desfile.

RETRÓS: E quanto aos projetos futuros?
THAMIRIS: Quero viajar, conhecer o mundo e, é claro, fazer cursos dentro da área de moda em algum lugar pelo qual passar. Tenho vontade de criar uma marca, mas acho que esse é um projeto que ainda exige mais maturidade profissional, portanto, não me apresso para isso.

RETRÓS: Busca inspiração no trabalho de algum estilista ou designer?
THAMIRIS: Acho que todos os estilistas famosos têm algo glorioso a ser apreciado e tomado como inspiração. Mas, pessoalmente, gosto muito do trabalho do Herchcovitch. Acho muito interessante a forma com que ele consegue transformar em comercial elementos que vêm do seu próprio background, como o punk.

RETRÓS: O que é moda para você?
THAMIRIS: Moda para mim é a tradução do que está acontecendo no mundo, e também no inconsciente coletivo das pessoas, em roupas e modos de vestir.

RETRÓS: O que considera mais importante: moda ou estilo?
THAMIRIS: Acho que a moda é importante para mostrar, através de roupas e formas de se vestir, o que está acontecendo na atualidade. Mas o estilo é mais importante, porque mostra como você absorve e interpreta tudo aquilo que está acontecendo.

RETRÓS: Considera-se fashionista?
THAMIRIS: Apesar de estar sempre por dentro das peças que estão sendo consideradas ícones da moda, e estar sempre de olho em blogs de estilo, não me considero uma fashionista genuína. Os fashionistas que vemos por aí estão sempre bem vestidos e com looks interessantes e “na moda”. Eu gosto de andar assim, é claro, mas tem aqueles dias em que eu simplesmente coloco um short jeans e uma camiseta e fico satisfeita, mesmo não estando “na moda”.

RETRÓS: Hoje ainda há uma carência no mercado para satisfazer o seu estilo?
THAMIRIS: O meu estilo atual não é algo muito definido. Eu consigo misturar muitas coisas de vários estilos diferentes e me vestir da forma que gosto. Portanto, hoje não sinto tanta falta de peças no mercado, já que posso achar coisas variadas que me agradem.

RETRÓS: Algum fetiche incontrolável?
THAMIRIS: Tenho vários “fetiches”. Mas nenhum incontrolável. Se eu tivesse muito dinheiro talvez eles se tornassem incontroláveis! Mas sou apaixonada por sapatos e também gostaria de poder comprar milhões de livros e ter uma biblioteca gigante em casa.
RETRÓS: Qual é a década com a qual você mais se identifica?
THAMIRIS: Eu gosto muito daquele glamour meio misterioso da década de 20, mas também adoro o clima setentista e os clássicos dos anos 80 que têm sido relidos pela moda atual.

RETRÓS: Qual item do passado deve ficar no baú para sempre?
THAMIRIS: Acho que todos os itens do passado têm uma chance de ficarem legais se repaginados e encaixados em um look bacana! Portanto, não há nada que deveria ficar enterrado para sempre.

RETRÓS: Que peça considera indispensável?
THAMIRIS: Regata branca! Tenho várias!

RETRÓS: Qual foi seu último investimento fashion?
THAMIRIS: Um macaquinho estampado da marca Maria Filó, que eu me apaixonei desde que vi na vitrine.

RETRÓS: O que você usa e não está nem aí?
THAMIRIS: Tênis! Não abro mão de conforto, seja para o dia a dia ou até mesmo para ir a uma balada. Se eu não estiver no clima de subir no salto, vou de tênis e não estou nem aí.

RETRÓS: Qual recado deixaria pra quem está começando o curso de Design de Moda?
THAMIRIS: Não se intimide com disputas de ego e confie no seu instinto, independente do que “estiver na moda” ou não.




[1] O termo que deriva do nome das máquinas fotográficas soviéticas Lomo. A arte de fotografar com uma Lomo consiste em disparar o obturador ao acaso, de forma imprevisível, e a sua genialidade provém dessa particularidade: a Lomografia não é uma fotografia encenada, produzida, é tão só uma fotografia criativa do quotidiano, um estado de espírito de voyeurismo constante.




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