segunda-feira, 7 de maio de 2012

ENTREVISTA LARISSA FERNANDES

Por: Fernanda Moraes e Lara Rogêdo

Larissa Fernandes, 27 anos, é dona da marca Lafê, que leva as iniciais do seu nome. Há dois anos no mercado,ela conta suas experiências com a marca e fala sobre as dificuldades e os maiores desafios de se manter no mercado.

Retrós: Quais são suas experiências na área de moda? 
Larissa: Sempre me interessei por moda e na hora de escolher a faculdade, optei por jornalismo por achar que era o que mais se aproximava de moda e onde eu podia seguir o caminho do jornalismo de moda. Durante o curso de jornalismo fiz corte e costura e desenho de moda, porque já sonhava em me dedicar a moda mais ativamente e sentia que precisava entender um pouco mais do assunto. Quando me formei fui para São Paulo e trabalhei como assessora de imprensa na Gisele Najjar Press & Co*, assessoria especializada em marcas de moda. Aproveitei para fazer mais cursos na área, como marketing de moda, jornalismo de moda e gestão em comunicação de moda. Depois fui trainee da Le Lis Blanc, onde passei por vários setores, e aprendi muito sobre montagem de loja, gerenciamento, treinamento, administrativo e sobre o funcionamento de uma grande marca. Essas experiências me ajudaram a ter coragem para abrir minha própria marca.

Retrós: Quando você decidiu abrir sua confecção própria?  
Larissa: Não me adaptei à São Paulo, o que me fez voltar para Belo Horizonte no início de 2009. Num primeiro momento, voltei a trabalhar com assessoria de imprensa de moda, mas logo percebi que eu queria ter minha própria marca. Fiz uma pequena coleção teste de alto verão 2010 que foi lançada em dezembro de 2009. Vendi para 03 lojas multimarcas na época. Era um momento da minha vida em que eu me sentia tranquila para arriscar e ir atrás do meu sonho.
Essa coleção foi o start para me mostrar que tinha um mercado para o meu produto e que valia a tentativa. Em janeiro de 2010 abri meu CNPJ e iniciei a produção da primeira coleção da Lafê, que foi lançada em abril de 2010. O primeiro espaço físico só veio na coleção seguinte, de verão 2011, uma sala de 30m², e só um ano depois, consegui instalar a Lafê numa casa no bairro Prado, onde estão a maioria das confecções em BH.

Retrós: Quais foram os primeiros desafios? 
Larissa: Foram muitos desafios. Eu realmente não sabia nada sobre o processo de produção e sobre as suas etapas (modelagem, pilotagem, prova, graduação, corte, facção, arremate, passadoria). Não conhecia nenhum profissional que realizava esses processos separadamente e não tinha nenhum fornecedor de tecido ou aviamento.Na primeira coleção, eu fiz tudo com uma única pessoa que não agüentou a pressão e acabou rasgando todos os moldes. Esses foram os primeiros desafios, que na verdade estavam diretamente ligados a minha falta de experiência. É um mar de processos e afazeres, que para quem sabe como funciona, e já passou por eles, muitas vezes não consegue entender como passei por tudo sozinha. Talvez é justamente o "não saber" que foi responsável pela falta de medo.
Além disso, a falta de capital também é um grande desafio pra quem está começando. É muito importante ter um capital de giro bem programado para realizar as primeiras coleções, mas eu também não o tinha.
Hoje consigo citar muitos outros, gerados pelo dia a dia e crescimento da empresa. Os mais marcantes são a dependência de diversos profissionais, que nunca cumprem os prazos, o que dificulta o cumprimento de um cronograma, a qualidade dessa mão de obra, o aumento do custo dela a cada coleção.
Tudo é um desafio, principalmente fazer uma coleção que inspire desejo, no meio de muita concorrência. Gerenciar uma equipe e manter um fluxo de caixa que transforme sua empresa em um negócio rentável também é muito trabalhoso. Ter uma marca hoje tem que ser um sonho e objetivo de vida muito grande, para que todos os desafios se tornem pequenos obstáculos e que cada coleção pronta seja um prazer reconfortante.

Retrós: Conte um pouco sobre sua rotina de trabalho.
Larissa: Minha rotina é bem diversificada, porque como a Lafê ainda é uma empresa pequena, muitas funções ficam sobre a minha responsabilidade. Cuido do financeiro, do administrativo, do estilo, de compras (atendimento de todos os fornecedores) e de coordenar as funcionárias responsáveis por aperfeiçoar a produção. Então, não tenho rotina, faço o meu trabalho de acordo com a demanda. É sempre muito trabalho para pouco tempo, o que me faz levar muito trabalho pra casa a noite e nos fins de semana. 

Retrós: Conte um pouco sobre a estrutura da sua empresa e o envolvimento dos seus funcionários.
Larissa: A Lafê hoje trabalha com uma equipe interna de 05 funcionários (01 vendedora, 02 estagiárias, 01 passadeira, 01 assistente de estilo free lancer). Os demais funcionários são terceirizados (02 cortadores, 06 facções, 01 empresa de arremate, 02 a 03 modelistas/pilotistas). Internamente como a equipe é pequena, o envolvimento é grande em todo o processo. As duas estagiárias me ajudam em coordenar toda produção, cuidar dos terceirizados, da logística dos produtos, do trabalho da passadeira, entram em contato com fornecedores, exercem diversas funções que aperfeiçoam a produção. A vendedora é responsável por todo o atendimento do showroom e estoque de mercadorias, e a assistente de estilo me ajuda a desenvolver a coleção. Todas têm múltiplas funções e são muito importantes para o andamento da empresa.

Retrós: Como você vê o mercado de Minas Gerais? Para onde você vende mais?
Larissa: Minas tem muito potencial, só no bairro Prado existem em torno de 400 confecções, com potencial para atender lojistas dos mais diversos seguimentos: jovem, jovem senhora, teen, infantil, plus size, masculino, acessórios. O mercado está em constante crescimento, mas muitas marcas abrem e fecham com frequência, devido à dificuldade de concorrer com pólos como São Paulo, que conseguem ter um produto semelhante por um preço mais baixo. Mas Minas ainda tem alguns produtos diferenciados, com mais qualidade, e um atendimento mais personalizado, o que faz o cliente se interesse em ter uma marca daqui em sua loja.
A Lafê vende principalmente para Belo Horizonte, Goiânia e Nordeste.

Retrós: Qual o seu processo de criação? O que você prioriza na hora de criar, a inspiração ou o mercado?
Larissa: Meu processo de criação começa com a escolha de um tema, sempre algo que esteja a minha volta, um estilo musical, uma banda, uma cidade que visitei. Em seguida ligo essa temática com o que está em alta, as chamadas "tendências" ou "vertentes do mercado".
Quem trabalha com moda para revenda em lojas multimarcas, que tem como principal objetivo a venda para pessoas dos mais diversos gostos, estilos e interesses, é obrigado a olhar o mercado com muita amplitude. O mercado não pode limitar a criação, mas tem que andar de mãos dadas com ela.


                        

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