Por: Fernanda Moraes e Lara Rogêdo
Larissa Fernandes, 27 anos, é dona da marca Lafê, que leva as iniciais
do seu nome. Há dois anos no mercado,ela conta suas experiências com a marca e
fala sobre as dificuldades e os maiores desafios de se manter no mercado.
Retrós: Quais são suas experiências na área de moda?
Larissa: Sempre me interessei por moda e na hora de escolher a faculdade, optei
por jornalismo por achar que era o que mais se aproximava de moda e onde eu
podia seguir o caminho do jornalismo de moda. Durante o curso de jornalismo fiz
corte e costura e desenho de moda, porque já sonhava em me dedicar a moda mais
ativamente e sentia que precisava entender um pouco mais do assunto. Quando me
formei fui para São Paulo e trabalhei como assessora de imprensa na Gisele
Najjar Press & Co*, assessoria especializada em marcas de moda. Aproveitei
para fazer mais cursos na área, como marketing de moda, jornalismo de moda
e gestão em comunicação de moda. Depois fui trainee da Le Lis Blanc, onde
passei por vários setores, e aprendi muito sobre montagem de loja,
gerenciamento, treinamento, administrativo e sobre o funcionamento de uma
grande marca. Essas experiências me ajudaram a ter coragem para abrir minha própria marca.
Retrós: Quando você decidiu abrir sua confecção
própria?
Larissa: Não me adaptei à São Paulo, o que me fez voltar para Belo Horizonte no
início de 2009. Num primeiro momento, voltei a trabalhar com assessoria de
imprensa de moda, mas logo percebi que eu queria ter minha própria marca. Fiz
uma pequena coleção teste de alto verão 2010 que foi lançada em dezembro de
2009. Vendi para 03 lojas multimarcas na época. Era um momento da minha vida em
que eu me sentia tranquila para arriscar e ir atrás do meu sonho.
Essa coleção foi o start para me mostrar que
tinha um mercado para o meu produto e que valia a tentativa. Em janeiro de 2010
abri meu CNPJ e iniciei a produção da primeira coleção da Lafê, que foi lançada
em abril de 2010. O primeiro espaço físico só veio na coleção seguinte, de
verão 2011, uma sala de 30m², e só um ano depois, consegui instalar a Lafê numa
casa no bairro Prado, onde estão a maioria das confecções em BH.
Retrós: Quais foram os primeiros desafios?
Larissa: Foram muitos desafios. Eu realmente não sabia nada sobre o
processo de produção e sobre as suas etapas (modelagem, pilotagem, prova,
graduação, corte, facção, arremate, passadoria). Não conhecia nenhum
profissional que realizava esses processos separadamente e não tinha nenhum
fornecedor de tecido ou aviamento.Na primeira coleção, eu fiz tudo com uma única
pessoa que não agüentou a pressão e acabou rasgando todos os moldes. Esses
foram os primeiros desafios, que na verdade estavam diretamente ligados a minha
falta de experiência. É um mar de processos e afazeres, que para quem sabe como
funciona, e já passou por eles, muitas vezes não consegue entender como passei
por tudo sozinha. Talvez é justamente o "não saber" que foi
responsável pela falta de medo.
Além disso, a falta de capital também é um grande desafio pra quem está
começando. É muito importante ter um capital de giro bem programado para
realizar as primeiras coleções, mas eu também não o tinha.
Hoje consigo citar muitos outros, gerados pelo dia a dia e crescimento
da empresa. Os mais marcantes são a dependência de diversos profissionais, que
nunca cumprem os prazos, o que dificulta o cumprimento de um cronograma, a
qualidade dessa mão de obra, o aumento do custo dela a cada coleção.
Tudo é um desafio, principalmente fazer uma coleção que inspire desejo,
no meio de muita concorrência. Gerenciar uma equipe e manter um fluxo de caixa
que transforme sua empresa em um negócio rentável também é muito trabalhoso.
Ter uma marca hoje tem que ser um sonho e objetivo de vida muito grande, para
que todos os desafios se tornem pequenos obstáculos e que cada coleção pronta
seja um prazer reconfortante.
Retrós: Conte um pouco sobre sua rotina de trabalho.
Larissa: Minha rotina é bem diversificada, porque como a Lafê ainda é uma
empresa pequena, muitas funções ficam sobre a minha responsabilidade. Cuido do
financeiro, do administrativo, do estilo, de compras (atendimento de todos os
fornecedores) e de coordenar as funcionárias responsáveis por aperfeiçoar a
produção. Então, não tenho rotina, faço o meu trabalho de acordo com a demanda.
É sempre muito trabalho para pouco tempo, o que me faz levar muito trabalho pra
casa a noite e nos fins de semana.
Retrós: Conte um pouco sobre a estrutura da sua
empresa e o envolvimento dos seus funcionários.
Larissa: A Lafê hoje trabalha com uma equipe interna de 05 funcionários (01
vendedora, 02 estagiárias, 01 passadeira, 01 assistente de estilo free lancer).
Os demais funcionários são terceirizados (02 cortadores, 06 facções, 01 empresa
de arremate, 02 a 03 modelistas/pilotistas). Internamente como a equipe é
pequena, o envolvimento é grande em todo o processo. As duas estagiárias me
ajudam em coordenar toda produção, cuidar dos terceirizados, da logística dos
produtos, do trabalho da passadeira, entram em contato com fornecedores,
exercem diversas funções que aperfeiçoam a produção. A vendedora é responsável
por todo o atendimento do showroom e estoque de mercadorias, e a assistente de
estilo me ajuda a desenvolver a coleção. Todas têm múltiplas funções e são
muito importantes para o andamento da empresa.
Retrós: Como você vê o mercado de Minas Gerais? Para onde você vende
mais?
Larissa: Minas tem muito potencial, só no bairro Prado existem em torno de 400
confecções, com potencial para atender lojistas dos mais diversos seguimentos:
jovem, jovem senhora, teen, infantil, plus size, masculino, acessórios. O
mercado está em constante crescimento, mas muitas marcas abrem e fecham com
frequência, devido à dificuldade de concorrer com pólos como São Paulo, que
conseguem ter um produto semelhante por um preço mais baixo. Mas Minas ainda
tem alguns produtos diferenciados, com mais qualidade, e um atendimento mais
personalizado, o que faz o cliente se interesse em ter uma marca daqui em sua
loja.
A Lafê vende principalmente para Belo Horizonte, Goiânia e Nordeste.
Retrós: Qual o seu processo de criação? O que você
prioriza na hora de criar, a inspiração ou o mercado?
Larissa: Meu processo de criação começa com a escolha de um tema, sempre algo
que esteja a minha volta, um estilo musical, uma banda, uma cidade que visitei.
Em seguida ligo essa temática com o que está em alta, as chamadas
"tendências" ou "vertentes do mercado".
Quem trabalha com moda para revenda em lojas multimarcas, que tem como
principal objetivo a venda para pessoas dos mais diversos gostos, estilos e
interesses, é obrigado a olhar o mercado com muita amplitude. O mercado não pode
limitar a criação, mas tem que andar de mãos dadas com ela.
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