segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Moda Eterna

Por Adriana Oliveira e Laura Pinto Coelho


Resumo:
O presente artigo aborda a influência mútua entre a moda e o cinema ao longo da história. Discute-se a importância do figurino na composição do personagem do cinema e ainda como a sétima arte pode atuar no comportamento de uma época.

Palavras Chave: Moda, Cinema, Comportamento.

Se é certo que a inspiração para a moda pode provir das mais diversas origens, a sua divulgação tanto se faz nos programas de televisão, revistas, nos blogs como se faz, até mesmo, nas ruas cheias de gente. Mas o cinema terá sido, ao longo da história da elegância feminina, talvez a forma mais persistente e eficaz de divulgação.  O cinema se inspira na moda e a moda se inspira no cinema.  Isso se dá por meio de cores, de formas, de acessórios, ditando, muitas vezes, tendências que serão seguidas pela moda na próxima estação.
Primeiramente, o cinema tinha como principais funções registrar acontecimentos e narrar histórias. Por ser um registro de imagens valioso, ele também é visto como uma das principais fontes de pesquisa de moda. De início a questão do figurino não era de tamanha relevância, o trabalho da moda nos filmes foi sempre prestar um serviço complementar — tinha apenas um supportting role, deveria aturar como apoio. A partir do momento em que os filmes passaram a ser produzidos mais cuidadosamente o figurino passou a ter uma grande importância tanto na função de acervo histórico como para dar realismo aos personagens da trama retratada.
Tratava-se, provavelmente, de um enriquecimento mutuo que trouxe à moda um enorme campo de ação e que tornou os costureiros ainda mais famosos.
Estilistas influenciam figurinistas, figurinistas servem de inspiração para estilistas; a moda alimenta o cinema e a sétima arte dita o que é moda. Divas cobertas por decotes, paetês, brilhos, casacos de pele. Galãs emoldurados por ternos charmosos ou posando de rebeldes com calças jeans sujas e rasgadas e camisetas brancas torneando os músculos. Graças às estrelas do cinema a moda extrapola os limites do mundo da ficção e da tela e vira item básico do nosso universo real. Nomes como Rita Hayword, Marilyn Monroe, Audrey Hepburn, Cary Grant, Marlon Brandon, James Dean e tantos outros, migraram do panteão de grandes astros do cinema para o Olimpo dos mais bem vestidos nas telonas.
A moda e o cinema têm um grande elo em comum, eles são vendedores de sonhos, o que chega a ser uma necessidade no mundo caótico atual. É por isso que o cinema com o tempo deixou de ser apenas uma referência de moda e comportamento para ser também a grande indústria vendedora de moda do mundo. O cinema se transformou numa vitrine almejada pelas grandes marcas. A roupa da personagem do filme tornou-se um sonho de consumo. Porém, sonho de consumo de uma forma de vida, e não apenas da roupa, que é exatamente o conceito que as grandes marcas de roupas tentam nos passar quando trabalham em conjunto com o cinema.
 As personagens de Hollywood são as principais fontes de pesquisa na hora que os estilistas põem sua criatividade à tona, tendo sido as mocinhas de Hitchcock as preferidas e mais imortalizadas pela moda.
Foi em 1939 que uma inglesa recebeu o papel que todas as belezas de Hollywood esperavam: Vivian Leigh (1913-1967) foi escolhida para desempenhar o papel de Scarlet O’hara em E o vento levou. Ficou assim para sempre na historia do cinema. Além do seu grande talento para representar, possuía uma beleza suave que a predestinou a tornar-se uma estrela.
Outra estrela que ficou como símbolo e exemplo a ser seguido para muitas mulheres da década foi, Marlene Dietrich (1901-1992), que apareceu pela primeira vez em O Anjo Azul. A atriz dava muita importância à roupa em sua vida privada e tornou-se um exemplo para muitas mulheres, com sua preferência por trajes masculinos, não deixando que lhe ditassem a roupa e muito menos a forma de viver e amar.
Em 1943 apareceu um filme que alterou não a moda, mas a figura das mulheres. Quando Jane Russel mostrou as suas formas no filme Outlaw, de Howard Hughes, suplantou o tipo de modelo andrógino que desde os anos 20 dominaram a cena. As curvas estavam na moda e onde nada existia usavam-se acolchoados. Assim se preparou o terreno para o new look de Christian Dior, que fez reviver a silhueta em forma de ampulheta.
Através desses  astros e estrelas, era despertado no público o desejo e o fetiche de assemelharem-se a eles, buscando, assim, copiá-los. Isso acontece por meio do processo de identificação, quando o espectador identifica-se com um determinado personagem e assim passa a imitar seu artista preferido. Após esse estágio, acontece a projeção, quando o espectador procura imitar o estilo de vida da estrela, não se limitando somente a vestir-se igual, mas pensando, falando e agindo conforme ela o faria.
 Tudo começa a partir do momento que o espectador consegue entrar na historia daquele filme e experimentar cada momento como se ele mesmo estivesse vivendo. Muitas pessoas, cansadas dos seus problemas, da sua vida parada ou de suas tristezas, têm a vontade de viver a vida do outro como se essa outra vida fosse melhor do que a dele.
Cada peça do vestuário de um personagem carrega signos e forma uma imagem que fica registrada na memória do espectador. Serve também para lançar moda, extrapolar os limites da telona e ganhar as ruas, influenciando o modo como o público se veste e lida com o próprio figurino do dia-a-dia.

Especialistas atribuem isso ao fato de ser o cinema a arte que, literalmente fazia parte da vida das pessoas. Havia para ele um grande público, como hoje há para a televisão. E mais: havia uma grande quantidade de revistas de cinema que além de divulgar os filmes, promoviam os modelos usados por atrizes e atores, ou seja, um prato cheio para as mulheres copiarem e tentarem imitar, com tecidos semelhantes, os modelos usados por sua estrela preferida.
Ao usar um vestido Givenchy, uma mulher comum pode se sentir como Audrey Hepburn, em Nova York tomando seu café da manha em frente a loja Tiffany’s.
Segundo Jean Baudrillard, é por meio da personalização que as pessoas definem-se em relação a seus objetos, estes constituem uma gama de critérios distintivos, mais ou menos, arbitrariamente, catalogados em uma gama de personalidades estereotipadas. É esse o artifício que os figurinistas e estilistas utilizam para compor os figurinos de estrelas de cinema, eles são transformados em ícones a serem reproduzidos pela moda. O figurino está acarretado de signos e significantes que determinam seu valor social, é o apelo do sonho de consumo.
Quando acaba a sessão de cinema e as luzes se acendem, o espectador continuar vivendo e almejando por aquela vida que é a do personagem, levando-o a se vestir e se portar como este.
O casamento cinema-moda tem dado certo ha muitos anos. De suntuosos filmes de época, com vestidos rodados e cheios de babados, a produções contemporâneas que não têm medo de ousar ao vestir seus personagens, moda e cinema andam de mãos dadas e estabeleceram uma relação de troca múltipla.
 Nunca a alta costura e o cinema se aproximaram tanto como no tempo em que o filme mudo e o preto e branco deram lugar ao cinema falado e à cor.
Se a moda é efêmera, passageira e muda conforme a estação, o cinema a eterniza em cenas antológicas. Estrelas cheias de glamour emprestam seu charme para marcas e grifes e fazem meros figurinos peças clássicas que entram sem pedir licença para a História da Moda.

Curiosidades:
– O chapéu usado por Indiana Jones no filme de Steven Spielberg fez a fábrica de chapéus Curry ser a maior vendedora desse artigo até hoje.
– A moda praia começou a ser disseminada, e a praia começou a ser mais utilizada, depois que Brigite Bardot usou um biquini xadrez que foi muito copiado no filme “E Deus criou a mulher”, em 1956.
– Por causa do filme “Os Pássaros”, Alexander McQueen criou uma bolsa com o nome “Novak”, inspirada em Kim Novak, que virou um clássico. 

 Principais filmes que podem servir de referencia para a moda do séc. XX:
1920 – Moderns (Allan Rudolph, 1987)
1926 – The Lodger (Alfred Hitchcock, 1926)
1931 – Henry e June (Kaufman, 1990)
1939 – A era do rádio (Woody Allen, 1987)
1946 – Gilda (George MacReady e Joseph Calleia, 1946)
1946 – E deus Criou a mulher (Roger Vadim, 1956)
1954 – Sabrina (Billy Wilder, 1954)
1955 – Juventude Transviada (Nicholas Ray, 1955)
1956 – Cinderela em Paris (Stanley Donen, 1956)
1960 – Bonequinha de Luxo (Blake Edwards, 1960)
1962 – Hairspray (John Waters, 1988)
1963 – Os Pássaros (Alfred Hitchcock, 1963)
1966 – Blow Up (Michelangelo Antonioni, 1966)
1969 – Hair (Milos Forman, 1979)
1969 – Sem Destino (Dennis Hopper, 1969)
1973 – Casino (Martin Scorcese, 1995)
1975 – Sid & Nancy (Alex Cox, 1986)
1978 – Os embalos de sábado à noite (John Badlan, 1978)
1986 – Conta Comigo (Rob Reiner, 1986)
1987 – Máquina Mortífera (Richard Donner, 1987)
1994 – Pulp Fiction (Quentin Tarantino, 1994)
1995 – Kids (Larry Clark 1995)
BIBLIOGRAFIA:
SEELING, Charlotte. Moda- O século dos estilistas 1900- 1999. Könemann Verlagsgesellschaft mbH, 2000.
In: Onne Disponível em <http://www.onne.com.br/materias/fashion/13339/moda_e_cinema> Acesso em 21/11/11
In: Over Mundo Disponível em < http://www.overmundo.com.br/overblog/o-cinema-e-a-moda> Acesso em 20/11/11
In: Vila Mulher Disponível em <http://vilamulher.terra.com.br/grandes-nomes-da-moda-no-cinema-14-1-32-855.html?origem=materias_relacionadas
 > Acesso em 21/11/11

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