segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A linguagem do vestir-se

Por Larissa Duarte e Lorena Viana, estudantes de Moda do 7º período da Universidade Fumec.

Resumo: O presente artigo aborda a relação entre corpo e moda, explicando a moda como uma forma de expressão e manifesto pessoal, comunicação imagética e simbólica, que parte do sujeito para compartilhar e interagir com o meio social no qual está inserido. Dessa forma, a moda do traje e o corpo se conectam e integram formando discursos sociais.

Palavras-chave: moda, corpo, linguagem, sujeito social, identidade.

O ser humano em um contexto de socialização elege a imagem como representação e posicionamento do indivíduo diante do grupo. O ato de ser visto, indicando cada sujeito diante do olhar do outro vai revelar elementos estéticos que cobrem de valores e significados cada um, inseridos em um período histórico e geográfico. Essas características formam narrativas que descrevem perfis sociais.

O corpo protagoniza uma etapa histórica na qual se apresenta como portador-vetor-expositor. Assim o sujeito agente, dono de um corpo manipulável, constrói suas próprias imagens de comunicação e inter-relação pessoal.  A moda, por sua vez, orientada e direcionada pelas necessidades de movimento e expressão do corpo, é uma linguagem; um conjunto de elementos capazes de criar e indicar, um diálogo, uma forma de comunicação. É a partir do vestuário e dos acessórios decorativos que o acompanham, que se estabelece o primeiro grau de reconhecimento e diferenciação social. Assim o corpo vestido constrói uma linguagem de signos, um sistema não-verbal de comunicação, que conduz o indivíduo ao encontro de funções e valores na sociedade.

O vestuário é uma espécie de segunda pele que contribui para agregar sentido ao corpo. Então, corpo e moda constroem um discurso com significado e conduzem o indivíduo ao encontro de funções e valores na sociedade. Uma relação paradoxal, pois ao mesmo instante que se completam, se confundem e tornam-se um só; dependentes e significantes. Eles compõem a aparência final de um sujeito que vive em constante mudança em busca de identidade, individualidade e inclusão.

Como toda superfície, a pele é a parte externa , visível, que se mostra de imediato, parte revelada e manifestada. Em seu aspecto físico apresenta sensações térmicas, tons diversos, marcas do tempo ou da intenção humana, desenhos, texturas, relevos, manchas, pêlos, dobras, protuberâncias, depressões, brilhos, corpos estranhos e porosidades. Sinais visuais que sensibilizam a superfície na sua aparência e nos sentidos que ela desperta.” (Pontes,2007, p.14)

Segundo Castilho (2007) a moda atualiza-se, como produto social, paralelamente aos desejos e escolhas do sujeito que absorve regras do sistema, também construído por ele. O corpo é regido por práticas gestuais que se originam do meio sociocultural, ao manifestar sua presença fisicamente.

Vestimo-nos por pudor, proteção e adorno, mas principalmente pela necessidade de comunicação e linguagem. O desejo de mudanças e transformações estéticas é reflexo da importância da aprovação do outro, da inclusão e da busca pela individualidade. Nesse sentido, o corpo é mutável, metamórfico, se transforma em reação ao tempo, espaço e tecnologia em que se faz presente.

Nízia Villaça (2011) defende em seu livro A edição do corpo: tecnociência, artes e moda que o corpo contemporâneo é editado e modificado para seu tempo e comportamento social desejável. O corpo editado é reflexo da tecnologia, dos meios de comunicação e das relações interpessoais. O resultado é um corpo confuso e perdido entre virtualidade e realidade, que se fundem e se confundem, criando assim, novas dimensões da vida individual e coletiva. Assim o corpo é material e social, ou seja, tem aspectos fundamentais do processo material, mas sem perder as especificidades das relações com outros corpos da sociedade.

A diferenciação hoje é a única opção existencial possível para viver livremente uma identidade nômade, de contornos incertos, sempre pronta a se questionar, sempre disponível a um overlaping construtivo, a uma sobreposição com as outras identidades. Uma identidade que está sempre a procura do êxtase da experimentação, de provar, da emoção da risada, liberdade criativa. As expressões da diferença são múltiplas, mas em todo caso, no fundo, há a ebriedade do inusual. (CALANCA, 2008, p.21 e 22).

Então, pensando a moda como um manifesto social de caráter histórico e cultural, a roupa terá a função de expor o indivíduo para a comunidade de  maneira a caracterizá-lo e, definindo-o, contar sua historia de vida. Essa imagem que identifica e dá sentido ao indivíduo será a estética de um corpo social manipulado e transmissor de características pessoais e partilhadas.

Bibliografia:

·         CALANCA, Daniela. A moda na era pós-industrial.  São Paulo: Editora SENAC. São Paulo, 2008.
·         CASTILHO, Kathia. Moda e linguagem. Editora Anhembi Morumbi, Coleção Moda e comunicação. São Paulo, 2007.
·          MESQUITA, Cristiane; CASTILHO, Kathia. Corpo, moda e ética – pistas para uma reflexão de valores. Editora Estação das Letras e Cores. São Paulo, 2.011.
·         VILLAÇA, Nízia. A edição do corpo: tecnociência, artes e moda. São Paulo: Estação das letras e cores, 2011

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